Guiné-Bissau: "Negociação é urgente para evitar insolvência"
1 de março de 2021Depois da greve de 28 dias, no mês de fevereiro, está em curso a partir desta segunda-feira, (01.03), mais uma greve geral convocada pela União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG), para exigir o cumprimento do memorando de entendimento e adenda ao mesmo, assinados com o Governo.
Os sindicatos e o Executivo não se entendem e a situação continua na mesma. A greve está a afetar a administração pública do país, as escolas e os hospitais, sem uma solução à vista.
Nas unidades sanitárias da capital guineense, há serviços mínimos a funcionar, mas os doentes ouvidos pela DW no Hospital Nacional Simão Mendes, o maior do país, queixam-se de "lentidão" nos atendimentos.
"Desde manhã que cheguei aqui, até agora não me atenderam e eu estou a sentir-me mal, estou muito cansado", disse um doente.
"Estão a atender-nos, mas cheguei aqui há muito e ainda não me atenderam. Vim buscar medicamentos, mas já estou cansada de esperar", queixa-se outra paciente.
Direitos dos trabalhadores estão em causa
O secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, Júlio Mendonça, justifica mais uma paralisação com a falta de abertura do Governo: "Não se dignou a sentar-se à mesa connosco, está a mostrar apenas prepotência e arrogância".
O que está em causa, considera, "são os direitos fundamentais dos trabalhadores, de serem dignificados enquanto servidores públicos e pessoas que pagam impostos e que também são alvos dos novos impostos e taxas neste período de pandemia de Covid-19".
"Para nós, isso não ajuda o país de maneira alguma e só temos que lutar para conquistar mais direitos dos trabalhadores", afirma.
A UNTG exige ainda do Governo de Nuno Nabiam a aplicação dos diplomas legais, em benefício dos trabalhadores, o Estatuto da Carreira Docente, e o Estatuto do Pessoal de Saúde, que ainda não estão a ser executados, bem como a definição do salário mínimo nacional e o aumento do mesmo, tendo em conta a subida dos impostos que se registou este ano.
Para esta quarta-feira, (03.03), está previsto o regresso às aulas presenciais em Bissau, depois de um mês de suspensão, decretada pelo Governo, devido à pandemia da covid-19. Mas, antes disso, os professores pedem o cumprimento de pelo menos três pontos em reivindicação, diz o presidente da Frente Nacional dos Professores e Educadores (FRENAPROFE), Sene Djassi.
"Os pontos selecionados para a execução são o Estatuto de Carreira Docente, a sua aplicação na íntegra, a restituição da carga horária retirada aos professores e o pagamento pelo menos de dois meses (de salários) aos professores recém-formados que agora estão a trabalhar", explica.
Economia guineense em cheque
O economista guineense Aliu Soares Cassamá prevê momentos maus para a economia da Guiné-Bissau: "Com esta greve, vamos continuar a registar a queda da receita fiscal e aduaneira, a produtividade vai ser nula, uma vez que antes da greve não se produzia na função pública".
"O país poderá conhecer a recessão do Produto Interno Bruto (PIB), que é uma queda consecutiva nos três trimestres, não obstante o Banco Oeste Africano de Desenvolvimento (BOAD) ter disponibilizado dez mil milhões de Francos CFA [mais 15 milhões de euros], mas este fundo vai ser canalizado exclusivamente para os apoios aos projetos, como o cultivo de arroz e a finalização da estrada Buba-Catió [no sul] para facilitar as relações comercias, entre a Guiné-Bissau e os países da sub-região", acrescenta Aliu Soares Cassamá.
"Este Governo tem a vontade de acabar com a greve, mas por si só vai ser difícil. Portanto, é urgente uma negociação com a UNTG, para evitar que o país caia numa situação de insolvência financeira", conclui.
A paralisação deverá decorrer até 31 de março.