Ucrânia: Guerra está a atrasar recuperação da Guiné-Bissau
21 de novembro de 2022A guerra da Ucrânia está a atrasar a recuperação da economia na Guiné-Bissau, prevendo-se uma moderação do crescimento para 2022, disse, esta segunda-feira (21.11), José Gijon, chefe da missão do corpo técnico do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o país.
"A economia da Guiné-Bissau está a recuperar gradualmente dos efeitos da pandemia de covid-19, embora as repercussões da guerra da Ucrânia estejam a atrasar essa recuperação", afirmou.
Segundo José Gijon, a economia deverá crescer 3,5% em 2022, as previsões iniciais apontavam para um crescimento económico de 3,8%, e que a inflação média fique acima dos 7%, "à luz do impacto potencial dos crescentes preços do petróleo e bens alimentares, que afetará negativamente os mais vulneráveis".
"Apesar da melhoria na mobilização de recursos em 2021, a ultrapassagem da despesa em 2022, especificamente na massa salarial, constrangeu o ritmo esperado de consolidação orçamental, trazendo o défice orçamental anual para 5% do Produto Interno Bruto este ano", afirmou José Gijon.
O chefe da missão do corpo técnico do FMI salientou também que continua a registar-se um "alto risco de sobre-endividamento na dívida pública", que representa mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB).
Acordo com o governo
O responsável falava em conferência de imprensa de balanço da missão realizada ao país, que decorreu numa unidade hoteleira em Bissau, durante a qual anunciou também que o corpo técnico do FMI chegou a acordo com o Governo guineense para um programa de 36 meses no âmbito do mecanismo de Facilidade de Crédito Alargado.
"O corpo técnico do FMI chegou a acordo com as autoridades da Guiné-Bissau sobre um programa a médio prazo a apoiar por recursos do FMI de cerca de 36,3 milhões de dólares ao abrigo da Facilidade de Crédito Alargado", afirmou o chefe da missão do corpo técnico.
"Carece-se de uma gestão orçamental sustentável para criar espaço orçamental para o muito necessário investimento em desenvolvimento social (saúde, educação) e em infraestrutura, preservando a sustentabilidade orçamental e da dívida, o que implica mobilizar mais receita interna, mediante uma estratégia de receita credível e abrangente e melhorando a qualidade e eficiência da despesa", afirmou José Gijon.
"Esta estratégia apela a uma melhor coordenação entre e dentro dos ministérios e agências públicas, bem como a uma atenuação dos grandes riscos orçamentais provenientes das empresas públicas", acrescentou.
"Governo empenhado"
Também em declarações, esta segunda-feira (21.11), o ministro das Finanças da Guiné-Bissau, Ilídio Té, afirmou que o Governo está a trabalhar para baixar o nível de endividamento do país e que o empenho das autoridades levou ao acordo com o Fundo Monetário Internacional.
“Nós temos a ideia clara de que o endividamento está num nível alto. É bom que se repita que são dívidas que vêm desde 1994 até à data presente. O Governo está empenhado, a trabalhar arduamente para que possam baixar o nível em que estamos”, afirmou Ilídio Té, quando questionado pela Lusa sobre o endividamento público, que representa mais de 80% do PIB guineense.
O ministro explicou que, neste momento, o executivo só faz empréstimos que não impliquem aumentar a percentagem de dívida pública.E insistiu que o "Governo está empenhado".
"Se não fosse o engajamento, empenho e dedicação total do Governo não estaríamos nesta fase com o Fundo Monetário Internacional, que é uma coisa muito boa para o país, porque quem tem o Fundo ao seu lado tem os caminhos abertos para os restantes parceiros internacionais", afirmou.
Ilído Té salientou que o FMI "não impõe a nenhum país a tomada de medidas", apenas "mostra os caminhos que devemos percorrer".
"Nós achamos que é pertinente seguir as orientações do fundo, porque sabemos muito bem aquilo que estamos a preconizar para o país, que é o bem-estar, e estamos a seguir os conselhos do fundo para que o país possa estar estável economicamente e seguir o seu caminho rumo ao desenvolvimento, que acho que todo o bom filho da Guiné-Bissau quer neste momento", disse.
Segundo o ministro, o país tem de continuar a seguir um "rumo de que todos os seus filhos se possam orgulhar".
A missão do FMI teve início no passado dia 8 com contactos com as autoridades da Guiné-Bissau para analisar a situação económica e as condições para negociar um programa financeiro.
A primeira parte da missão realizou-se de forma virtual e a segunda parte, presencial, teve início em 14 de novembroe terminou esta segunda-feira.