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Guiné-Bissau: “É altura de ONU liderar o país"

19 de março de 2020

A pandemia de novo coronavírus tira a Guiné-Bissau da agenda da comunidade internacional, numa altura de grande incerteza política. Há quem peça que a ONU assuma a governação com os apartidários.

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Guinea-Bissau Großmarkt in Bissau
Foto: DW/B. Darame

Tendo em conta a profunda divisão do país, o ativista Toni Góia, líder do Movimento a Voz do Cidadão do Mundo, relançou um debate que começou há 20 anos. Na altura apresentou como solução para as instabilidades políticas cíclicas a gerência transitória do país pelas Nações Unidas por um período de cinco ou mais anos. Uma solução que nunca foi comentada pela ONU e ignorada pela classe política guineense, mas que agora ganha mais apoiantes.

Goiá, que diz não ser a sua intenção passar um "atestado de incompetência" aos políticos nacionais, entende que nem as eleições, nem os tribunais, nem a mediação internacional, que fará o diálogo político, vão acabar com a instabilidade governativa na Guiné-Bissau:

"O nível de pobreza no país não vai permitir que a nossa democracia marche. A pobreza e alta taxa de analfabetismo são incompatíveis com a democracia. Estamos a viver ao Deus dará". O jornalista do único canal televisivo do país, que pertence ai Estado, disse que até ele, que tem um salário, sofre de carências: "Imagine quem não trabalha?”

É a hora da ONU agir

O movimento, que fez circular uma petição contra as sucessivas instabilidades políticas e governativas que adiam o sonho guineense, acredita que chegou o momento da ONU assumir a governação imediata da Guiné-Bissau, recorrendo a um grupo de quadros guineenses a partidários.

UN Hauptquartier in New York
Sede da ONU em Nova IorqueFoto: picture-alliance

"Tenho a certeza que a Guiné-Bissau sozinha não vai conseguir. Mesmo resolvendo este problema pós-eleitoral, isto vai continuar na mesma. Desde 2000, há 20 anos, que estamos no mesmo sítio. Há um grupo que quer ir a todo custo para o poder. Imagine, num país sem sector privado forte e um Governo pobre que é o maior empregador”, diz Goiá.

Desde o conflito político-militar de 1998/99 que a comunidade internacional tem vindo a intervir na Guiné-Bissau para garantir a estabilidade governativa, até agora sem sucesso. O país vive golpes militares e constitucionais em série. A realização das eleições legislativas em março do ano passado, e as presidenciais de dezembro, eram vistas como a luz verde para o início do processide estabilização e retorno à normalidade constitucional. Um ano depois, persiste a crise com mais uma indefinição pós-eleitoral.

"Democracia de comida”

Por isso seria mais barato para os parceiros internacionais reformar a estrutura do Estado, diz Toni Góia. 

"Estamos perante uma democracia de comida, isso não é democracia ideológica onde os partidos políticos discutem ideias para construir um país. Não é. Isto é a luta pela sobrevivência de quem quer ir para o ministério das Finanças, ir para as alfândegas ou o ministério das Pescas", disse Góia à DW África. " Somos campeões em fazer eleições que não dão em nada, só confusão. Só gastar dinheiro, que podia servir para a educação e saúde”, remata.

Guiné-Bissau: “É altura da ONU liderar o país com guineenses fora do sistema”

Para o editor do jornal "Última Hora", de Bissau, Sabino Santos, o país precisa criar uma nova elite política de referência. 

"O país está numa situação de banalização total, de descrédito e de falta de orientação. Devem surgir novas valências ou ser revitalizadas aquelas valências do passado que serviram de referência para muita gente”. 

Oxigénio para a Guiné-Bissau

Santos, que é também moderador de um debate político numa rádio privada da capital guineense, acredita que apesar da deceção com a classe política, os guineenses são capazes de resolver os problemas do país. 

"O país está a precisar de algum oxigénio, que podia vir da elite, o que sempre defendi. Mas estamos num país onde já não temos líderes de opinião. Onde as entidades religiosas não são levadas em consideração por ninguém, onde a sociedade civil tem medo de intervir”. 

Na Guiéné-Bissau continua a aguardar-se pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre o desfecho do contencioso eleitoral. mas o tribunal diz que não pode trabalhar devido a interferência dos militares que chegaram a fecharam o Palácio da Justiça. 

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