Guiné-Bissau: Exame nacional experimental é um "fiasco"
11 de agosto de 2021A decisão do Ministério da Educação Nacional está a ser contestada por vários intervenientes no setor, mesmo depois da entidade governamental ter apelidado os exames de "experimentais". O ministério da Educação Nacional garantiu que os exames não terão nenhuma influência na nota dos alunos, para os quais prosseguem as avaliações contínuas.
O antigo ministro da Educação e técnico do setor, Dautarin da Costa, disse à DW África ser contra os exames nacionais. Explica que a decisão é consequência de um desconhecimento total do sistema educativo por parte das entidades governamentais. "E isto é extremamente grave", considera o académico, que alerta os riscos da medida.
"Nós não podemos avaliar um ano letivo que não funcionou, um sistema educativo que não está padronizado, onde as pessoas aprendem coisas diferentes e não conseguem ter uma visão estrutural do sistema. E isto impõe a questão do porquê que se está a fazer isto", disse Dautarin da Costa, que dirigiu o ministério da Educação guineense no Governo de Aristides Gomes, afastado de poder em fevereiro de 2020.
Faltaram trabalhos preliminares
Para os exames experimentais já realizados foram selecionadas 17 escolas públicas e privadas, numa altura em que o setor educativo vive uma das maiores crises com a greve dos professores, que já dura há oito meses.
O presidente do Sindicato Democrático dos Professores (SINDEPROF), Alfredo Biaguê, considera os exames nacionais um "fiasco", dadas as sucessivas greves. "Fez-se exames nacionais com que matéria? Para fazer exames nacionais tem de haver harmonização do currículo escolar e dos programas".
Os alunos guineenses chegaram a ameaçar bloquear as vias de acesso à capital, Bissau, para protestar contra a realização dos exames. Mas acabaram por acatar a decisão do Ministério da Educação.
O presidente da Confederação Nacional das Associações Estudantis da Guiné-Bissau (CONAEGUIB), Bacar Darame, reforçou a ideia de que faltaram trabalhos preliminares para a realização dos exames e cita a falta de uniformização do currículo escolar a nível nacional, assim como o funcionamento das reuniões de coordenação. "Factos que não aconteceram há muitos anos e há uma disparidade em termos de conteúdo", sublinha Darame.
A DW África contactou a Direção dos Exames Nacionais, mas o departamento remete quaisquer declarações para depois do fim de todo o processo dos exames, altura em que se procederá ao balanço das atividades.