Legislativas antecipadas no topo da agenda de Sissoco
27 de abril de 2020A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) recomendou que se forme um novo Governo até 22 de maio. Mas o Presidente guineense, Umaro Sissoco, está a sondar a eventual dissolução do Parlamento e a consequente convocação de eleições legislativas antecipadas.
O chefe de Estado guineense reuniu-se com o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), José Pedro Sambú, para saber se o organismo estaria em condições de organizar novas eleições dentro de 90 dias.
"É uma questão que está no topo da prioridade. E, como sabe, é o Governo que vai criar as condições para as eleições e não a CNE", disse Sissoco aos jornalistas no Palácio da Presidência, justificando que essa seria uma solução caso persista um bloqueio político no país.
Consultas
Segundo José Pedro Sambú, a realização das eleições antecipadas dependerá da viabilidade técnica e financeira. Mas o presidente da CNE remete a decisão para os atores políticos.
"Cabe à parte política decidir sobre eleições. É preciso fazer uma atualização do recenseamento eleitoral, antes das eleições antecipadas", afirmou.
Fonte oficial da presidência guineense confidenciou à DW África que Umaro Sissoco convocou a comunidade internacional para uma reunião na terça-feira (28.04), em que quer saber da disponibilidade dos parceiros em financiar o novo pleito.
Na quarta-feira deverá ouvir os partidos políticos com assento parlamentar sobre uma eventual dissolução do Parlamento.
Referendo constitucional
Outro tema em discussão na Guiné-Bissau tem a ver com a recomendação da CEDEAO para que se faça rapidamente um referendo constitucional, dentro de seis meses. Para a organização sub-regional, essa seria uma solução para as cíclicas instabilidades no país.
O constitucionalista guineense José Carlos lembra que é ao Parlamento que compete essa decisão.
"A auscultação ao povo normalmente [é] sobre assuntos que interessam ao povo - assuntos que o político entende que, para melhor legitimação do que se pretende fazer, é [preciso] devolver a soberania ao seu povo. Por isso, não faz sentido que sejam entidades estrangeiras a decidir sobre a matéria", afirma o constitucionalista, que exerce como conselheiro do presidente da Assembleia Nacional Popular.
Presidencialismo poderá conduzir a totalitarismo
Para o jurista e analista político Luís Petit, a CEDEAO está a ultrapassar todos os limites no desrespeito à soberania da Guiné-Bissau: "Não é uma simples maioria parlamentar que se requer para uma mudança da Constituição. É preciso que se crie as condições de haver dois terços de deputados para pronunciar-se a favor", recorda.
À DW África, o constitucionalista José Carlos defende que o problema do país não está na Constituição ou no regime político em vigor, mas sim no "homem político" guineense. Acrescenta ainda que o semipresidencialismo é o sistema mais ajustado para a Guiné-Bissau e que o presidencialismo seria uma forma de institucionalizar a ditadura na "suma forma de totalitarismo".
Toda a comunidade internacional se alinhou com a decisão da CEDEAO e pede que os atores políticos colaborem para tirar o país da crise.