1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Adiamento das legislativas só beneficia Sissoco Embaló"

Iancuba Dansó (Bissau)
13 de outubro de 2022

Depois do Governo considerar "quase impraticável" realizar eleições legislativas a 18 de dezembro, Movimento da Sociedade Civil concorda com adiamento. Mas analista entende que a situação só beneficia o Presidente.

https://p.dw.com/p/4I9uO
Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló
Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló Foto: DW/B. Darame

Devido aos atrasos para começar o recenseamento eleitoral, o ministro da Administração Territorial, Fernando Gomes, admitiu aquilo que vários analistas já tinham considerado como "óbvio". Gomes considerou a possibilidade de as eleições legislativas serem adiadas, posição que, segundo ele, foi também defendida pelos partidos políticos num encontro com o Governo, na quarta-feira.

"Esse encontro foi muito bom, porque houve quase um consenso entre os mesmos de que a data de 18 de dezembro é impraticável", disse.

Um dos argumentos apresentados pelo governante para admitir o adiamento das eleições legislativas tem a ver com o atraso na chegada ao país de materiais informáticos para o recenseamento eleitoral. Fernando Gomes citou ainda as condições "não favoráveis" impostas pela época chuvosa, que não permitiria a realização de vários trabalhos antes da ida às urnas.

Adiamento "só beneficia Sissoco Embaló"

À DW África, o jornalista Armando Lona afirma, porém, que a não realização das eleições em 18 de dezembro só irá beneficiar a agenda política do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló.

"Quando Umaro Sissoco Embaló decretou a queda da plenária da Assembleia [Nacional Popular] já se sabia claramente que não haveria eleições", diz o jornalista.

Eleições legislativas na Guiné-Bissau em março de 2019
Legislativas antecipadas podem ser adiadas por causa de atrasos na chegada ao país de materiais informáticos e porque o recenseamento ainda não começouFoto: Getty Images/AFP/SEYLLOU

Sissoco Embaló "beneficia muito com este cenário. Quer continuar a ter um país que não funciona, porque temos um Governo também disfuncional", acrescentou.

"Condições"

O Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento anunciou que não está contra o adiamento das eleições, mediante algumas condições.

"Nós entendemos que as eleições devem ser realizadas em condições propícias. E é preciso cumprir os pressupostos legais, o recenseamento [eleitoral] de raiz que a maioria dos partidos políticos entende que é necessário realizar", avançou o vice-presidente do movimento, Mamadu Queita.

"Se não pode ser no dia 18 [de dezembro], que seja numa data razoável, que permita que sejam cumpridos todos os pressupostos legais", explicou.

Primeiro-ministro guineense, Nuno Gomes Nabiam
Primeiro-ministro guineense, Nuno Gomes NabiamFoto: Braima Darame/DW

Nova reunião

O primeiro-ministro guineense, Nuno Gomes Nabiam, disse esta quinta-feira que o Governo pretende voltar a reunir-se com os partidos para definir um cronograma eleitoral que será, posteriormente, apresentado ao Presidente da República.

Umaro Sissoco Embaló decidiu dissolver a Assembleia Nacional Popular (ANP) em 16 de maio passado, acusando os deputados de transformar o Parlamento num espaço de guerrilha e de conspiração.

O jornalista Armando Lona alerta que o adiamento das eleições legislativas antecipadas poderá ter várias consequências negativas. "O país vai ter mais contestações, sobretudo de índole política", antevê.

"Poderá ainda intensificar a tensão a que assistimos hoje nos setores sociais, porque há um Governo que está a funcionar à margem da Constituição da República da Guiné-Bissau e que não consegue ter respostas para os problemas sociais que o povo enfrenta."

Reflexões Africanas: As ameaças à democracia da Guiné-Bissau