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Bissau: Funcionários públicos em greve passam dificuldades

Iancuba Dansó (Bissau)
26 de maio de 2021

Devido à greve na função pública guineense, que se arrasta há seis meses, o Ministério das Finanças bloqueou o salário do mês de maio de vários funcionários. Sissoco Embaló garante que Governo não pagará a grevistas.

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Guinea Bissau | Streik
Foto: DW/F. Tchuma Camara

Parece não ter fim à vista a guerra entre o Governo e a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG). A situação tem vindo a agravar-se desde que se despoletaram, em janeiro, ondas de greves na administração pública, com destaque para as escolas e hospitais públicos.

Os salários do mês de maio de vários ministérios, incluído os da Educação e Saúde, que deviam ter sido pagos entre os dias 18 e 20 deste mês, foram bloqueados pelo Ministério das Finanças.

A instituição afirma estar a decorrer o "processo de verificação" das faltas dos funcionários em greve, para depois proceder ao pagamento dos ordenados, o que poderá demorar até ao final do mês. 

No entanto, em entrevista, esta terça-feira (25.05), à Televisão da Guiné-Bissau (TGB), o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, garantiu que os grevistas não serão pagos:

"Aderir à greve, é um direito que lhe assiste, mas o Governo também tem o direito de não pagar a quem não trabalha. Já disse aos ministros da Administração Pública e das Finanças: ai deles que paguem aos grevistas", ameaçou.  

Dificuldades familiares

Vários funcionários públicos, de diferentes Ministérios, relatam momentos difíceis, devido à falta de salários: "Nós [funcionários] não temos dinheiro. Estamos num momento muito difícil e precisamos do dinheiro. O Governo tem que pensar e deixar tudo para atrás". 

O mesmo confirma à DW outro funcionário público ouvido: "Estamos a deparar-nos com várias dificuldades em termos de alimentação, de saúde e a situação da renda de casa”. 

Protest gegen die Regierung Guinea Bissau
Protesto organizado pela UNTG em janeiro de 2021 (Foto de arquivo)Foto: Iancuba Dansó/DW

"Neste momento estamos muito mal em casa, porque não temos dinheiro para viver neste mês de maio. Sem salário é muito difícil, sabendo que o salário é sagrado para uma família”, lembra um terceiro funcionário.

Apesar das privações, o presidente do Sindicato Democrático dos Professores (SINDEPROF), Alfredo Biaguê, garante que a greve vai continuar "até um dia alguém entender que estamos do lado da razão”. "Nós dissemos em outras ocasiões que entregamos tudo a Deus. Estamos dispostos a enfrentar esta situação [de bloqueio de salários] e vamos estar serenos, continuando com a nossa luta sempre de cabeça levantada", garante Alfredo Biaguê.

Para além dos professores, o bloqueio dos salários afetou também os técnicos de saúde. 

A greve em curso na função pública termina na próxima segunda-feira (31.05), mas a UNTG ameaça avançar para mais uma paralisação a partir de 1 de junho, por um período de 30 dias. 

Guerra pessoal

Paralelamente à "guerra institucional", há uma luta pessoal na Justiça, entre o ministro das Finanças, João Fadiá, e o secretário-geral da UNTG, Júlio Mendonça. Depois de se envolverem em trocas de acusações, os dois apresentaram uma queixa-crime no Ministério Público, contra as declarações do outro.

A União Nacional dos Trabalhadores da Guiné exige, entre outros, a aplicação na íntegra do Estatuto da Carreira Docente, o pagamento da Carga Horária aos professores, a aprovação e aplicação do Estatuto da Carreira do Pessoal de Saúde e a demissão dos funcionários que entraram de forma "ilegal" na função pública.

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