Guiné-Bissau debate futuro do ano escolar
12 de junho de 2020Antes da pandemia da Covid-19, as escolas privadas da Guiné-Bissau funcionavam em pleno. O mesmo não se pode dizer das escolas públicas, que já acumulavam problemas operacionais, devido à longa greve convocada pela União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), à qual aderiram os sindicatos dos professores.
O novo coronavírus obrigou o Governo a decretar o estado de emergência e suspender todas as aulas no país em março. Três meses mais tarde, há vozes a pedir a clarificação da situação, concretamente uma resposta sobre o futuro do ano letivo 2019/2020.
O presidente da Confederação das Associações dos Alunos das Escolas Públicas e Privadas (CAAEPP), Alfa Umaro Só, diz que chegou a altura do Executivo guineense se pronunciar. "Estamos a acompanhar universidades e escolas privadas que já se estão a preparar para a retoma das aulas, e nós encorajamos as direções dessas escolas" nesse sentido, disse Só.
Diferença de prestação entre escolas públicas e privadas
Contactada pela DW África, uma fonte do Ministério da Educação e do Ensino Superior da Guiné-Bissau promete que o ministro da tutela, Djibril Baldé, apresentará publicamente o plano de contingência para o setor da educação nos próximos dias. A fonte não avançou, entretanto, as recomendações e medidas constantes do referido plano.
Para o antigo presidente do Sindicato Nacional dos Professores (SINAPROF) e conhecedor do sistema educativo guineense, Luís Nancassa, caso o Governo opte pela validação do ano letivo nas escolas públicas, haverá consequências negativas para os alunos.
"Para mim, no que diz respeito às questões técnicas, não há possibilidade de dizermos que vamos validar o ano letivo 2019/2020. Nas escolas privadas, sim, pode-se fazer alguma coisa, porque essas funcionaram", disse Nancassa à DW África.
Cidadãos pelo anulamento do ano letivo nas escolas públicas
Falando em nome dos quatro sindicatos dos professores da Guiné-Bissau, António João Bico diz que a decisão sobre o ano letivo cabe ao Governo. Bico lembra que os sindicatos devem seguir as recomendações do Executivo na sequência da renovação do estado de emergência, mas deixa um aviso: "Os sindicatos esperam que o Governo se lembre de alguns compromissos existentes entre os sindicatos e o Governo. Refiro-me aos acordos celebrados, que devem ser cumpridos".
Enquanto se aguarda pela decisão sobre o futuro do ano letivo, os guineenses ouvidos nas ruas de Bissau pela DW África têm uma opinião inequívoca sobre a matéria: "Nas escolas privadas, a percentagem de aproveitamento é de, no máximo, 60% e acho que se pode validar o ano", disse Jeremias José da Silva. Adá Fernandes Sana, outra cidadã, pede uma decisão justa: "Não seria necessário anular o ano nas escolas privadas, porque a maioria delas já estava a terminar o segundo trimestre. Mas as escolas públicas, sim". O cidadão Ramalho da Silva diz: "Tecnicamente o ano é nulo. Na minha perspetiva, é melhor preparar para o próximo ano".