Guiné-Bissau depende de produtos estrangeiros
16 de março de 2016A Guiné-Bissau é um país que depende fortemente do exterior. Atualmente, depende do estrangeiro para ter acesso a produtos básicos e até para resolver os conflitos políticos.
Ao nível da alimentação, a Guiné-Bissau importa até o que a natureza lhe dá de graça. O arroz, por exemplo, que o país tinha em excesso e exportava no passado, vem hoje em dia do Vietname, da Índia ou do Brasil. Estima-se que, todos os anos, a Guiné-Bissau tenha de importar 80 mil toneladas de arroz, a base da dieta alimentar.
Sem fábricas, nem operadores de transformação dos produtos locais, os bens de primeira necessidade são importados de países vizinhos como o Senegal, a Gâmbia e a Guiné-Conacri.
Esta situação acarreta problemas e nos últimos dias tem faltado açúcar na Guiné-Bissau. Isto acontece porque o Senegal aumentou as taxas alfandegárias na fronteira com a Gâmbia, de onde são descarregados os produtos para a Guiné-Bissau.
Falta rapidez e segurança nos serviços portuários da Guiné-Bissau
Bambo Sanhá, presidente da Associação dos Consumidores, diz que a falta de açúcar se deve, maioritariamente, à falta de vontade política do Governo: "é preciso uma vontade política para invertermos esta situação. A verdade é que nós devemos modernizar os nossos portos. Falta amor à pátria e vontade política das autoridades para colocar os interesses da Guiné-Bissau acima dos seus".
Além do açúcar, outros produtos de primeira necessidade começam também a faltar, o que tem levado à especulação de preços no mercado interno.
O presidente da Associação dos Retalhistas dos Mercados de Bissau, Aliu Seide, lamenta que haja demasiada burocracia e pouca segurança e rapidez nos serviços portuários.
"Se a Gâmbia e o Senegal estão onde estão hoje em dia, em termos de economia, é porque os portos são muito concorridos. Ninguém vai à Guiné-Bissau. Para já, é muito caro, tem muitos problemas e os empresários preferem ir onde é mais barato, mais fácil, mais rápido, em vez de virem para a Guiné-Bissau onde existem tantos problemas. Isto é muito triste", afirma Aliu Seide.
Crises cíclicas na Guiné-Bissau prejudicam a economia
No plano político, a Guiné-Bissau tem sido atingida por crises cíclicas, golpes de Estado e assassinatos. E, mesmo para resolver pequenos problemas internos, é obrigada a chamar os mediadores da CEDEAO (Comunidade de Económica dos Estados da África Ocidental), CPLP (Comunidade Países de Língua Portuguesa), Nações Unidas e União Africana. Até agora, das quatro organizações, só faltava chamar uma missão da União Africana para tentar pôr fim à atual crise política no país.
A missão chegou esta quarta-feira (16.03). Ovídio Pequeno, representante da União Africana na Guiné-Bissau, disse que não tem nenhuma proposta, mas vai auscultar as partes em litígio.
"Nós estamos um pouco distraídos em matérias de desenvolvimento. E enquanto houver situações de crises cíclicas, não nos conseguimos concentrar", afirmou.
Ovídio Pequeno afirmou ainda que as autoridades devem começar a discutir assuntos sérios no país e deixar de lado as querelas políticas: "devemos ser sérios naquilo em que nos devemos concentrar para que não haja distrações. E por vezes, distrações podem criar problemas muito sérios na Guiné-Bissau".
As Nações Unidas salientaram, há seis meses, que é preciso estabilidade na Guiné-Bissau para criar um "ambiente propício para a execução do programa de desenvolvimento do país".
Em 2014, numa mesa redonda em Bruxelas, a Guiné-Bissau recebeu promessas de apoio a projetos de desenvolvimento no valor de mil milhões de euros. O país também depende desse dinheiro. Por isso, espera-se que seja possível encontrar uma solução em breve.