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Guiné-Bissau: O que aconteceu ao sonho de desenvolvimento?

Iancuba Dansó (Bissau)
22 de setembro de 2023

Ativistas, ex-combatentes e líderes discutem desafios persistentes após meio século de independência. “O país fracassou em cumprir sua visão após a independência”, dizem.

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Eleições na Guiné-Bissau em junho de 2023
Guiné-Bissau celebra o seu 50º aniversário de independência a 24 de setembro, em Lugadjol, o local onde o Estado foi proclamado em 1973Foto: Iancuba Danso/DW

A Guiné-Bissau está a três dias de celebrar o 50º aniversário da sua independência, num momento em que a necessidade de mudar o rumo do país em busca do desenvolvimento é uma unanimidade. Nesta emissão, a DW África traz as opiniões sobre o país que foi prometido durante a luta pela independência e o país que foi entregue pelos Combatentes da Liberdade da Pátria, além de explorar as possíveis soluções para os desafios atuais.

A opinião sobre a situação na Guiné-Bissau é unânime há vários anos. Políticos e cidadãos reconhecem ofracasso na missão de desenvolvimento, o que resultou em crises políticas cíclicas, golpes de Estado e corrupção persistente, males que os sucessivos governantes prometeram eliminar.

Os problemas persistem em setores cruciais para o progresso do país, como estradas precárias, sistemas de saúde e educação em crise e falta de investimentos significativos. A inoperância do sistema judicial na luta contra a corrupção é considerada um dos maiores obstáculos num país independente há 50 anos.

Amílcar Cabral e a importância da educação para a libertação

Visão prometida por Cabral

Iancuba Djola Indjai, um antigo aluno da escola-piloto criada por Amílcar Cabral para a escolarização das crianças durante a luta pela independência, compartilha a visão prometida por Cabral.

"No entender de Amílcar Cabral, o novo Estado tinha como missão cumprir o que ele chamou de programa maior, que era um conjunto de pensamentos que permitiria à nova Guiné-Bissau, livre e independente, mas subdesenvolvida, dar saltos qualitativos para um desenvolvimento, em que o povo seria quem se aproveitava melhor de tudo isto, para que o povo, ele mesmo, suportasse o peso do desenvolvimento e acabasse definitivamente com o analfabetismo e o subdesenvolvimento", revelou.

No entanto, Iancuba Djola Indjai, de 67 anos, que conheceu Amílcar Cabral ainda criança e conviveu com ele na adolescência, reconhece que o país fracassou em cumprir essa visão após a independência.

"[A nova Guiné-Bissau] era um Estado popular, conquistado pelo sacrifício do povo durante onze anos da luta de libertação nacional, era um Estado que a nível internacional era um orgulho de África, que dava credibilidade a África e aos revolucionários de todo o mundo, com elevada estima", contou.

Guinea-Bissau Wandgemälde
Associação Juvenil para Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (AJPDH), argumenta que deve haver uma reflexão profunda.Foto: Miguel Barros

Estado falhado?

Celestino Carvalho, Combatente da liberdade da Pátria e antigo Ministro da Defesa Nacional, acredita que as forças armadas guineenses também podem contribuir para criar um ambiente de paz no país.

"[As forças armadas] são um instrumento ao serviço da política e a sua primeira contribuição como instrumento da defesa e do território é criar condições de Paz, para que haja o desenvolvimento. Se elas criarem um clima de paz, isso seria uma grande ajuda para que o Desenvolvimento possa iniciar-se seriamente na Guiné-Bissau", disse.

Como saída para as sucessivas crises e para promover o desenvolvimento, Mansata Silá, presidente da Associação Juvenil para Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (AJPDH), argumenta que deve haver uma reflexão profunda.

"Quem somos nós, com que nos identificamos e o que queremos realmente? Sem o delineamento deste pensar profundo, transformando-o numa ideia concreta, para a realização de uma ação concreta, vamos continuar a ser um Estado falhado, perdido e que não sabe defender a sua população dentro e fora do seu território", disse.

A Guiné-Bissau celebra o seu 50º aniversário de independência no próximo domingo (24.09), em Lugadjol, o local onde o Estado foi proclamado em 1973. A nação espera ansiosamente por mudanças que levem ao desenvolvimento tão almejado.

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