Guiné-Bissau pede apoio das Nações Unidas
22 de setembro de 2016O Presidente guineense estreou-se esta quarta-feira (21.09) a discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. José Mário Vaz aproveitou a oportunidade para esclarecer a situação política na Guiné-Bissau, afirmando que "a crise guineense já não é de cariz político-militar, mas apenas político-institucional."
O chefe de Estado frisou que "desde o início do mandato, não houve um único disparo de armas por parte dos militares e paramilitares, ninguém foi morto ou espancado por razões políticas, não foram registados casos de prisões arbitrárias, há liberdade de expressão, de imprensa e de manifestação, e não se colocam questões de violação de direitos humanos". Lembrou ainda o acordo proposto pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) - segundo Vaz, um "importante passo" para pôr fim à crise política guineense e garantir a estabilidade no país.
O acordo entre os principais intervenientes na crise política guineense, assinado nas vésperas do encontro das Nações Unidas, prevê a criação de um Governo inclusivo, que dirigirá o país até às próximas eleições e irá rever a Constituição, entre outras tarefas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, manifestou-se satisfeito pela assinatura do documento.
Pedido de apoio
Reiterando o compromisso de "tudo fazer", através do diálogo, para consolidar a paz e a estabilidade na Guiné-Bissau, José Mário Vaz pediu também ajuda às Nações Unidas no processo de reconciliação nacional – particularmente na "materialização da importante reforma do setor de defesa e segurança, no controlo de armamento e gestão de materiais de guerra e obtenção de fundos para a reintegração dos desmobilizados."
Quase no final do discurso de estreia do chefe de Estado guineense na Assembleia Geral das Nações Unidas, houve tempo ainda para um lembrete aos doadores internacionais: "Os apoios dos parceiros internacionais, consubstanciados na Mesa Redonda de Bruxelas, traduzem, de forma inequívoca, a atenção para com a situação do Estado e populações guineenses. Tal como prometido, esperamos que os parceiros nos ajudem, para que o desenvolvimento económico possa ser um motor para a paz e a estabilidade no nosso país."
Nyusi não falou sobre crise político-militar
Se José Mário Vaz aproveitou a presença na sessão da Assembleia Geral da ONU para esclarecer os problemas da Guiné-Bissau perante os Estados-membros, já a crise político-militar moçambicana ficou de fora do discurso do Presidente Filipe Nyusi.
Perante a Assembleia Geral, o chefe de Estado moçambicano teceu elogios aos objetivos Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, saudou uma "nova era" e frisou que Moçambique já está a trabalhar neste sentido.
"O programa quinquenal já reflete os princípios do desenvolvimento sustentável. Criámos um grupo de referência nacional envolvendo representantes do Governo, Parlamento, sociedade civil", afirmou Nyusi. "A tarefa é acompanhar os progressos dos indicadores para avaliação das metas até 2030. "
A Agenda 2030 reúne um conjunto de 17 objetivos e 169 metas para tentar solucionar os principais desafios do planeta, como a fome, a pobreza e as mudanças climáticas.
Segundo Filipe Nyusi, com o grupo de referência nacional, o Governo de Moçambique pretende tornar o processo de implementação da agenda "mais inclusivo, coerente e transparente". O chefe de Estado moçambicano referiu ainda que o país criou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável para mobilizar mais recursos internos.
Reforma da ONU
A um mês da data prevista para o fim do processo de escolha do novo secretário-geral das Nações Unidas, o Presidente moçambicano deixou alguns desejos para o futuro da organização.
"Do próximo secretário-geral, que será eleito em breve, esperamos o reforço das relações existentes com Moçambique, particularmente para impulsionar a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Esperamos igualmente a materialização das reformas das Nações Unidas, para torná-la mais democrática e mais representativa e ao serviço de todas as nações e de todos os povos do mundo."
Ban Ki-moon fez na segunda-feira o último discurso como secretário-geral perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. O português António Guterres é um dos candidatos ao cargo.