Guiné-Bissau: Presidenciáveis fazem campanha em Lisboa
14 de outubro de 2019A comunidade guineense radicada em Portugal, sobretudo na área da Grande Lisboa, dividiu-se em três grupos de apoiantes esta segunda-feira (14.10) para marcar presença quase na mesma hora na ação de campanha de três dos principais candidatos às eleições presidenciais de 24 de novembro na Guiné-Bissau.
José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira partilharam salas diferentes na Universidade de Lisboa, enquanto que Umaro Sissoco Embaló reuniu-se com os guineenses na Amadora, um dos concelhos com maior concentração de cidadãos africanos, entre os quais oriundos da Guiné-Bissau.
Jomav desafiou os guineenses na diáspora a regressarem ao país natal e contribuírem com o seu trabalho, saber e experiência para o esforço do desenvolvimento nacional. Abordado antes pelos jornalistas, o candidato, que ainda acumula o cargo de Presidente da República, recusou-se a falar para a imprensa estrangeira, preferindo comunicar primeiro com a comunidade, à qual se dirigiu em crioulo.
"Vim cá para desafiar a nossa comunidade e pedir-vos para nos ajudarem a compor a terra. Ninguém é mais que ninguém naquela terra. Nós todos somos filhos da Guiné-Bissau. Não temos guineenses de primeira nem temos guineenses de segunda", afirmou.
"Mãos limpas"Numa sala quase repleta da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, José Mário Vaz tratou de desmentir aqueles que diziam que o Presidente não tem apoiantes em Portugal. "Dizem que Portugal está completamente dominado e que José Mário Vaz não tem ninguém cá. Levantem-se e mostrem que afinal tenho cá apoiantes. Nós contamos convosco", acrescentou.
O candidato, que esteve antes em Espanha, disse que durante cinco anos exerceu uma magistratura de influência. Apresentou-se perante à comunidade como um homem de paz, de mãos limpas e sem sangue, "porque não mandou espancar nem matar ninguém". É um homem, insistiu, que não está envolvido no tráfico de droga nem em atos de corrupção lesivos aos cofres de Estado da Guiné-Bissau.
Jomav fez questão de dizer que nenhum país vai desenvolver-se se não tiver paz, tranquilidade, estabilidade e liberdade, que são os lemas da sua campanha. O Presidente guineense lembrou que entra para a corrida, porque não se sente confortável em estar à frente dos destinos de um país em que os valores da dignidade humana não têm nenhum significado.
É neste ambiente que desvendou ter havido gente que não quis que ele saísse de Bissau, receando um golpe de Estado. "Havia gente preocupada dizendo que eu não devia sair do país, porque está previsto um golpe de Estado na Guiné-Bissau. Nunca! Nós acabamos com golpes de Estado na Guiné-Bissau", sublinhou.
"Virar a página"Na mesma tarde, Domingos Simões Pereira se reunia na Universidade de Lisboa com outro grosso de guineenses, numa sala pequena para o número de apoiantes. O candidato, líder do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) disse antes à imprensa que chegou a hora de os guineenses virarem a página.
"Muita coisa mudará. Primeiro, o respeito escrupuloso pelo Estado de direito democrático. A lei tem que estar por cima de nós todos. Depois, o Presidente da República tem que ser o símbolo da unidade nacional e não pode ter comportamentos que se associam a grupos, etnias e religiões", disse.
"O Presidente da República tem que congregar esta moldura e convocar os guineenses para a manifestação e celebração daquilo que nos une, não daquilo que nos desune e nos separa", declarou Domingos Simões Pereira.
Nova esperança
Umaro Sissoco Embaló, que esteve antes na Inglaterra, também explanou sobre o papel do Presidente da República e sublinhou que é preciso dar uma nova esperança aos guineenses. O candidato apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) quer refundar o Estado.
"Enquanto primeiro-ministro, viram o que eu fiz. Enquanto Presidente da República, [defendo] o refundamento do Estado, a dignidade do Estado, encorajar o homem guineense para fazer fé à Guiné-Bissau. É isso que eu vim transmitir aqui aos meus irmãos da Guiné-Bissau", afirmou.
O ex-primeiro-ministro sustentou que, se for eleito, vai respeitar e fazer respeitar a Constituição. Essa mensagem foi passada à comunidade guineense em Lisboa, no meio de um forte calor humano, e será enfatizada quando lançar a sua candidatura em Bissau.
Umaro Sissoco Embaló reconheceu, por outro lado, que a diáspora deve participar no processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau, com o impulso do Presidente da República.