Guiné-Bissau: denúncias sobre extremismo religioso preocupam
26 de outubro de 2017O padre Domingos da Fonseca afirma que, tendo em conta as vulnerabilidades da Guiné-Bissau, já alertou as autoridades para este fenómeno do extremismo religioso. De acordo com Domingos da Fonseca, o facto da Guiné-Bissau ser um "país laico" abre portas a "qualquer confissão religiosa, desde que não se torne foco de tensão e de conflito". "Estamos a ser invadidos por muitas confissões religiosas que entram com muito dinheiro. Com que finalidade? Não sabemos", responde.
Para o também presidente da Comissão Organizadora da Conferência Nacional Caminhos para a Consolidação da Paz e Desenvolvimento, é importante que se faça o levamento das confissões religiosas no país, procurando "conhecer a filosofia de cada uma delas". "Os políticos devem estar muito atentos à diversidade religiosa, porque isso pode constituir uma riqueza para o país, como também pode constituir perigo", alerta.
Sociedade suscetível de ser "instrumentalizada”
Hamadou Boiro, investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), reconhece que a comunidade islâmica guineense é suscetível de instrumentalização, visto que dispõe de poucos conhecimentos sobre o islão.
Uma realidade que, de acordo com este investigador, faz da Guiné-Bissau um campo fértil para as organizações radicais islâmicas. Os extremistas "vão para uma sociedade, um país, onde há pouco conhecimento sobre o islão", vão "dividir para melhor reinar". No caso específico da Guiné-Bissau, os extremistas "vão ver as divergências entre mandingas e fulas. As duas comunidades são muçulmanas, mas com alguns problemas ligados à história. Eles aproveitam-se desses problemas para os seus fins", explica Hamadou Boiro.
Perante estas ameaças, também o antropólogo guineense defende um estudo aprofundado sobre as atividades de seitas islâmicas no país, destacando os ramos xiita e sunita da religião. Paro Hamadou Boir, a não realização deste estudo fará com que o país continue "a navegar nas águas turvas, o que é muito grave".
Atualmente, há pessoas das "etnias muçulmanas, tanto fulas como mandingas e beafadas, que vão estudar o alcorão na Arábia Saudita, Irão ou na Turquia. Se há extremistas que financiam os estudos destas pessoas - tendo em conta que o árabe não é a nossa língua oficial -, qual é o objetivo deste financiamento? Nós temos que saber", afirma Hamadou Boir. O investigador do INEP questiona ainda a proveniência dos fundos que suportam as atividades religiosas no país.
A inquietação sobre o radicalismo religioso na Guiné-Bissau surge depois do alerta de Bubacar Djaló, presidente da União Nacional dos Imãs da Guiné-Bissau. Numa entrevista à agencia de notícias Lusa, Bubacar Djaló afirmou que o radicalismo no país está a ser conduzido por cidadãos estrangeiros provenientes do norte da África e Médio Oriente. Segundo o líder dos imãs guineenses, estes extremistas "aproveitam-se da pobreza e da falta de formação de muitos guineenses" para lhes incutir o radicalismo.