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Guiné-Bissau: Velhas picardias no dia das novas eleições

4 de junho de 2023

As urnas já encerraram na Guiné-Bissau. As eleições legislativas antecipadas eram aguardadas há muito. Mas Umaro Sissoco Embaló e Domingos Simões Pereira voltaram a trocar recados. Vários candidatos apelam à calma.

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Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló
Foto: DW

As legislativas deste domingo (04.06) decorreram de forma pacífica, sem incidentes graves e com uma boa participação dos eleitores, de acordo com os dados preliminares da Comissão Nacional das Eleições (CNE). Só a votação para os guineenses em Dacar teve de ser adiada, por causa da crise política na capital senegalesa.

Este domingo, muitos eleitores disseram ter votado com a expetativa de que, depois destas eleições, o país possa finalmente virar a página e pôr fim às crises políticas constantes.

"Votei com esperança de encontrar políticos ou um partido que queira tirar este país do abismo em que se encontra", disse um eleitor em declarações à DW África, em Bissau. "O país não está bem, não é segredo para ninguém", comentou outro.

Votar para "ultrapassar a tempestade" na Guiné-Bissau

Há mais de um ano que o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu a Assembleia Nacional Popular, alegando que o órgão se tinha transformado num "espaço de guerrilha política" e "conspiração". As eleições antecipadas estavam previstas inicialmente para 18 de dezembro, mas foram adiadas devido a atrasos no recenseamento eleitoral.

20 partidos e duas coligações disputam os 102 lugares no Parlamento. São as eleições mais concorridas de sempre.

Sissoco e Simões Pereira trocam recados

Depois de votar, esta manhã, na região leste de Gabú, o Presidente da República garantiu que estas serão eleições justas e transparentes.

"Eu ganhei as eleições [em 2019] como opositor. Dá para ver a transparência do nosso sistema", comentou Umaro Sissoco Embaló em declarações aos jornalistas.

Mas o Presidente deixou também um recado de que só trabalhará com "políticos sérios".

Eleições na Guiné-Bissau: Sissoco Embaló vota em Gabu

Sissoco Embaló já tinha avisado durante a campanha eleitoral que, mesmo que a coligação Plataforma da Aliança Inclusiva (PAI) - Terra Ranka vença estas eleições, recusará nomear como primeiro-ministro o cabeça de lista da força política, Domingos Simões Pereira, porque ele "tem de ir à Justiça e esclarecer as questões que pendem sobre si".

Este domingo, o chefe de Estado voltou a dizer algo semelhante: "Ninguém está acima da Justiça guineense. Para o novo Parlamento, quem for indiciado de corrupção pela Justiça terá de ir responder [a tribunal]. Não podemos estar a esconder-nos atrás da imunidade parlamentar", reiterou Sissoco Embaló.

Simões Pereira respondeu a Sissoco quase em simultâneo, pouco depois de votar em Bissau: "O único 'temor' que poderá haver nestas eleições é a eventualidade de alguém querer brincar com a vontade expressa pelo povo guineense", disse o líder do PAI - Terra Ranka.

"O meu temor é alguém querer brincar com os resultados"

No entanto, o político admitiu que ainda é cedo para falar sobre quem ocupará o cargo de primeiro-ministro caso o PAI - Terra Ranka ganhe as eleições. Essa é uma decisão que caberá à coligação, acrescentou Domingos Simões Pereira.

Candidatos apelam à tranquilidade

Ao longo da campanha eleitoral, vários políticos pediram maioria absoluta, para garantir estabilidade governativa no país. Mas os observadores duvidam que um único partido consiga esse feito, devido à aparente fragmentação do eleitorado.

Braima Camará, do MADEM-G15, Joana Cobdé, do Movimento Social Democrático, e Botche Candé, do Partido dos Trabalhadores Guineenses, apelaram este domingo a todos os atores políticos que respeitem os resultados divulgados pela CNE, para preservar "a paz e a tranquilidade" no país.

"Continuo a pedir a todos os guineenses para continuar com o processo eleitoral na paz e tranquilidade. Para que escolham, de livre vontade, quem entendam que, de facto, será capaz de coabitar com [o Presidente] Umaro Sissoco Embaló, se ganhar as eleições", disse Botche Candé.

Botche Candé: "Peço a todos que aceitem a vontade do povo"

Cerca de 200 observadores internacionais estão a acompanhar as eleições na Guiné-Bissau, não só da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), como também da União Africana (UA) e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Além disso, organizações da sociedade civil guineense também monitorizaram a votação no terreno. Jorge Carlos Fonseca, chefe da missão de observação da CEDEAO, frisou que é um trabalho extremamente importante "para a construção da democracia e do Estado da Guiné-Bissau".

Durante a tarde, o Partido da Renovação Social (PRS) denunciou que havia pessoas a serem impedidas de votar, supostamente devido a problemas nos cadernos eleitorais.

"Fomos informados que alguns cadernos eleitorais estão com nomes trocados, mas já comunicámos a quem de direito essa anomalia para ser imediatamente corrigida, porque consta que há pessoas nestas circunstâncias que estão a ser impedidas de votar", afirmou o líder do PRS, Fernando Dias.

No final, o político repetiu o apelo de outros candidatos, para que estas eleições sejam "livres, justas e transparentes em cada passo".

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