Guiné-Conacri terá protestos contra candidatura de Condé
2 de setembro de 2020Na Guiné-Conacri, a Frente Nacional para a Defesa da Constituição (FNDC) - uma aliança de partidos, sindicatos e membros da sociedade civil - anunciou novas manifestações contra um terceiro mandato do Presidente Alpha Condé, de 82 anos. A FNDC, no entanto, ainda não definiu as datas dos protestos.
O anúncio de novas manifestações é uma reação imediata à confirmação de uma nova candidatura do Presidente pela Assembleia do Povo da Guiné-Conacri (RPG, na sigla em francês) nas eleições presidenciais do dia 18 de outubro.
Uma nova candidatura do atual chefe de Estado guineense à corrida presidencial é considerada "escandalosa e geradora de conflitos" pela oposição. O movimento que tem manifestantes com camisas vermelhas como marca registada sobreviveu à intensa repressão em protestos que registaram dezenas de mortos desde outubro de 2019.
"Está claro agora, até para os mais céticos, que o senhor Alpha Condé - que afirma ter lutado durante décadas pela democracia na Guiné - não é nada mais do que a maior desilusão da história política do nosso país", declarou a FNDC.
Condé fez aprovar este ano uma Constituição renovada que, segundo os opositores, foi elaborada para permitir-lhe concorrer novamente na votação marcada para 18 de outubro. A declaração da RPG na segunda-feira (31.08) terminou meses de especulação sobre a candidatura ao terceiro mandato.
"Manobra Infantil"
Segundo a constituição da Guiné-Conacri, os presidentes só podem cumprir dois mandatos. Mas, conforme analistas políticos, a nova constituição poderia redefinir o contador de mandatos presidenciais e permitir a Conde concorrer uma terceira vez.
Alpha Condé preferiu não tecer quaisquer declarações sobre a sua candidatura. Para o líder da União das Forças Democráticas da Guiné (UDRG, na sigla em francês), Amadou Bah Oury, o silêncio do Presidente visa ganhar mais tempo para tentar enganar a oposição.
Para Bah Oury, trata-se de uma "manobra infantil” para não ferir sensibilidades e fazer as pessoas acreditarem que ele não vai ser candidato. "É para atrapalhar o jogo político dos adversários, um esforço para economizar tempo e preparar adequadamente a apresentação de sua candidatura", avalia.
Os candidatos têm até a próxima terça-feira (08.09) para formalizarem as suas pretensões de concorrer ao pleito.
"Está ligado ao povo"
O primeiro secretário parlamentar da RPG e porta-voz do partido, Domani Doré, está convicto que Condé será candidato a um terceiro mandato. Para Doré, ao aceitar a candidatura, Condé concretiza o que sempre disse: "Que faria o que o povo lhe pedisse para fazer".
"Isto é a prova de quanto ele está ligado ao espírito do seu povo, do seu partido e de quanto respeita o partido que apoia a sua candidatura. Não se pode deixar de apoiar os alicerces da democracia. Sim, o ambiente legal dá-lhe o direito de ser candidato, na sequência de um referendo constitucional", diz.
Conde é uma antiga figura da oposição que foi presa sob regimes anteriores na Guiné. Tornou-se o primeiro presidente democraticamente eleito do país em 2010. Cinco anos mais tarde, ele venceu novamente as eleições sob críticas de ter se tornado cada vez mais autoritário.