Guiné-Conacri: oposição denuncia mortes e fraudes
21 de outubro de 2020A União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG), principal partido da oposição na Guiné, denunciou fraudes em "grande escala" nas eleições presidenciais de domingo (18.10). Por outro lado, as principais organizações regionais africanas consideraram as eleições regulares.
O vice-presidente da UFDG, Fode Oussou Fofana, disse que o Presidente Alpha Condé, da Assembleia do Povo da Guiné (RPG), está "a fazer de tudo para alterar os resultados a seu favor". Fofana tinha anteriormente acusado a imprensa de usar todos os meios "para alterar os resultados".
"Os administradores territoriais, as forças de defesa e segurança, ministros, altos funcionários do governo central e alguns magistrados estão todos mobilizados para levar a cabo esta fraude em grande escala", disse.
O candidato da UFDG, Cellou Dalein Diallo, proclamou unilateralmente a sua vitória na segunda-feira (19.10), causando temores de uma escalda da violência pós-eleitoral no país. A Guiné-Conacri assiste há meses protestos violentos devido ao possível terceiro mandato do Presidente Alpha Condé.
Fofana revelou que pelo menos quatro jovens morreram durante confrontos com as forças de segurança nos últimos dois dias em manifestações a favor do líder da oposição. "Estamos em luto pela morte de quatro adolescentes pelas forças de defesa e segurança sob as ordens de Alpha Condé", declarou.
O Governo da Guiné-Conacri não confirmou as mortes e "lamentou profundamente" a declaração de vitória feita pelo líder opositor.
"Prematura e nula"
Segundo os representantes da oposição, a contagem paralela realizada pela UFDG indicaria a vitória de Cellou Dalein Diallo. Alpha Condé, por seu lado, quebrou o silêncio com uma pequena mensagem no Facebook: "#Você e eu. Saúdo a maturidade política dos nossos concidadãos. A Guiné é única e indivisível".
A Comissão Eleitoral Nacional Independente (Ceni) anunciou na noite desta terça-feira (20.10) os primeiros resultados em quatro dos 38 círculos eleitorais da Guiné-Conacri, incluindo três na capital e nos seus arredores.
Alpha Condé teria vencido por uma larga margem nos quatro círculos eleitorais, ultrapassando 50% na primeira ronda em três deles. Um funcionário da Ceni disse à agência de notícias AFP que, no entanto, era "impossível projetar" um resultado nacional apenas a partir destes primeiros números. A Ceni considerou "prematura" e "nula" a proclamação de vitória por Cellou Diallo.
CEDEAO: "Justas e transparentes”
Os observadores eleitorais da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Africana (UA) consideram que as presidenciais foram justas e transparentes.
O chefe da missão da UA e ex-primeiro-ministro da República Democrática do Congo, Augustin Matata Ponyo, assinalou que "as eleições tiveram lugar num contexto político e eleitoral tenso, dando origem a receios legítimos de violência grave". Os observadores recomendaram aos partidos e atores políticos que preservem o clima atual de paz e espírito de conciliação, evitando discursos inflamados e provocações.
Ponyo sugeriu que os representantes dos partidos demonstrem "espírito democrático e republicano, respeitando os resultados oficiais proclamados pelas autoridades competentes e utilizando os canais legais em caso de contestações".
A ONU, em conjunto com a CEDEAO e a União Africana, apelou esta terça-feira à contenção na Guiné-Conacri enquanto se aguardam os resultados oficiais.