Guterres diz que invasão russa da Ucrânia é uma "afronta"
23 de fevereiro de 2023O secretário-geral das Nações Unidas condenou a invasão russa da Ucrânia, descrevendo-a como uma "afronta à consciência coletiva" global, por ser "uma violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional" que "está a ter dramáticas consequências humanitárias e de direitos humanos".
António Guterres dirigiu-se à Assembleia Geral das Nações Unidas antes da votação de uma moção, apoiada por Kiev, apelando a uma "paz justa e duradoura" na Ucrânia e envolvendo a retirada das tropas russas.
"O impacto está a ser sentido muito além da Ucrânia. Como eu disse desde o primeiro dia, o ataque da Rússia à Ucrânia desafia os princípios e valores fundamentais do nosso sistema multilateral", recordou Guterres na abertura de uma sessão especial em Nova Iorque.
"A posição das Nações Unidas é inequívoca: Estamos comprometidos com a soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia, dentro das suas fronteiras reconhecidas internacionalmente", disse perante uma vasta audiência.
"Todos os membros devem abster-se nas suas relações internacionais da ameaça ou uso da força contra a integridade territorial ou independência política de qualquer Estado, ou de qualquer outra forma incompatível com os propósitos das Nações Unidas", recordou o líder da ONU.
Ameaças de uso de armas nucleares
António Guterres sublinhou ainda que "está a tornar-se mais evidente o quanto tudo ainda pode piorar", referindo-se à "grave ameaça que assombra o mundo" devido à "atividade militar irresponsável" em torno da central nuclear de Zaporijia, a maior da Europa, e às "ameaças implícitas de uso de armas nucleares", por parte da Rússia.
"As possíveis consequências de um conflito em espiral são um perigo claro e presente. O chamado uso tático de armas nucleares é totalmente inaceitável. É hora de recuar. A complacência apenas aprofundará a crise, enquanto corroerá ainda mais os nossos princípios compartilhados, proclamados na Carta", afirmou o líder da ONU.
O secretário-geral refletiu sobre as resoluções adotadas na Assembleia Geral que condenaram a ação russa, a entrega de ajuda humanitária, o apoio aos refugiados, as trocas de prisioneiros, a retirada de civis presos na central siderúrgica Azovstal, as suas duas visitas à Ucrânia e o acordo de cereais do Mar Negro.
António Guterres advogou que a guerra alimenta a instabilidade regional e as tensões e divisões globais, enquanto "desvia a atenção e os recursos de outras crises e questões globais prementes".
Apelo à "paz genuína e duradoura"
Sublinhando o empenho da ONU em "garantir justiça e responsabilidade" em relação ao conflito, Guterres terminou a sua intervenção com um apelo à "paz genuína e duradoura", mas uma paz de acordo com a Carta da ONU e direito internacional.
"A guerra não é a solução. A guerra é o problema. As pessoas na Ucrânia estão a sofrer enormemente", friosu. "Embora as perspetivas possam parecer sombrias hoje, sabemos que uma paz genuína e duradoura deve ser baseada na Carta da ONU e no direito internacional", frisou.
O apelo coincide com a mensagem presente num projeto de resolução apresentado pela Ucrânia e aliados que irá a votos no final desta sessão especial e que enfatiza "a necessidade de alcançar, o mais rápido possível, uma paz abrangente, justa e duradoura", de acordo com a Carta fundadora da ONU.
A sessão especial de emergência na Assembleia-Geral irá prolongar-se até quinta-feira (23.02) e integra uma ampla agenda da ONU para assinalar um ano de guerra na Ucrânia, que inclui ainda uma reunião ministerial do Conselho de Segurança na sexta-feira (24.02).