Hendrik Witbooi: O lutador namibiano com astúcia política
12 de junho de 2018Nascimento: por volta de 1830 em Pella, um distrito localizado na fronteira com a Namíbia, no noroeste da África do Sul. Witbooi nasceu numa família de líderes, tendo o seu pai e avô deixado uma marca como membros importantes da tribo Witbooi Nama, pertencente ao povo Khoikhoi do sudoeste africano. Em 1863, Witbooi mudou-se para o território que hoje é conhecido como Namíbia. Lá, Hendrik Witbooi foi educado por missionários alemães. Mais tarde, reassentou-se nas montanhas a sudoeste de Windhoek, capital da Namíbia, onde estabeleceu e liderou uma comunidade Nama. Morreu a 29 de outubro de 1905, na aldeia de Vaalgras, na Namíbia, numa batalha contra os colonizadores alemães.
Reconhecido: por ser uma pessoa astuta. Prova disso é o facto de ter identificado, precocemente, a ameaça que o colonialismo representava para o seu povo e ter apelado para que as tribos africanas pusessem fim às suas guerras e se unissem contra os alemães. Embora os Nama fossem poucos e com menos recursos quando comparados com as tropas alemãs, as táticas de Witbooi foram de tal forma firmes que lhe valeram a alcunha de "a cobra que desaparece na relva" ("!Nanseb Gaib Gabemab").
Witbooi era respeitado pelos alemães. O administrador dos colonos do sudoeste de África, o general Leutwein, escreveu sobre ele: "Ainda o vejo diante de mim... modesto, seguro de si mesmo, leal, mas não sem astúcia política, nunca se desviando do que considerava ser o seu dever ou o seu direito". Witbooi comunicou-se também com muitos líderes africanos e europeus, tendo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) registado as suas cartas e o seu diário (escrito em holandês) como património mundial documental.
Como se tornou Hendrik Witbooi um símbolo da resistência? Constatando que os alemães estavam a reivindicar mais e mais territórios no sudoeste africano, Hendrik Witbooi escreveu ao chefe da tribo Herero vizinha. Embora os Nama tivessem travado guerras ferozes contra os Herero, Witbooi pediu-lhe que os dois grupos parassem de lutar e se unissem contra os colonizadores. A aliança foi em grande parte mal sucedida. Pouco mais de uma década depois, os alemães dizimaram os Herero e os Nama em massacres declarados pelas Nações Unidas como "um dos primeiros casos de genocídio no século XX". No entanto, a convocação de Witbooi para uma resistência unificada contra os colonizadores cimentou a sua reputação como um grande líder.
Como era a relação de Hendrik Witbooi com os alemães? Em 1893, as tropas alemãs atacaram a comunidade da montanha de Witbooi, matando sobretudo mulheres e crianças. Depois disso, Witbooi assinou um tratado de proteção com os alemães. Na década seguinte, ele colaborou com as autoridades coloniais, fornecendo mesmo tropas para combater outras tribos. Hendrik Witbooi terá tido uma "amizade cordial" com o general Leutwein. Mas em 1904, Witbooi lançou a revolta Nama contra os ocupantes alemães, liderando o movimento de resistência durante um ano, até ser abatido.
Frases famosas:
"Nós não entregamos as nossas terras. O que não foi dado pelo proprietário não pode ser tomado por outra pessoa."
"Quando um chefe está sob proteção de outro, o subalterno deixa de ser independente, senhor de si mesmo, do seu povo e do seu país."
Antes de morrer no campo de batalha, diz-se que Witbooi pediu a paz: "É o suficiente. As crianças devem agora descansar".
É lembrado: pelo seu papel importante no percurso da Namíbia até à independência (que alcançou em 1990). Por ter sido um dos heróis da luta de libertação, o seu rosto está nas notas de US$50, US$100 e US$200 da Namíbia. E o seu espírito revolucionário, que fez com que pegasse em armas e combatesse o imperialismo alemão em defesa do seu país, ainda é ensinado e reconhecido nas escolas da Namíbia.
Mavouline Natasha, uma jovem Nama conta, em entrevista à DW África, que quando era mais nova, a sua avó mandava-a a casa dos amigos ou onde quer que tivesse deixado dinheiro emprestado. E dizia-lhe sempre: "vai e traz-me o !Nanseb" – nome pelo qual Hendrik Witbooi era conhecido.
Hendrik Witbooi nasceu no seio de uma família de referência do povo Nama - uma tribo de pastores, outrora nómada, que vivia no sudoeste africano e que se estabeleceu mais tarde e de forma permanente no sul da Namíbia. Lá, Witbooi ganhou a reputação de guerreiro pelas lutas que travou com o vizinho povo Herero. Mas assim que os colonizadores alemães alargaram a sua expansão para as terras dos povos Nama e Herero na década de 1890, Witbooi mudou de estratégia. Propôs união aos inimigos Herero para, juntos, fazerem frente aos alemães.
Anton von Wietersheim, um político reformado e agricultor, assevera que "Hendrik Witbooi estava sempre a tentar reunir pessoas para lutar contra os inimigos comuns". "Eu também vejo um inimigo comum no tribalismo e no etnicismo. Ele via isso como parte da estratégia dos colonialistas alemães para dividir as tribos e, em seguida, dominá-las. E é isso que a etnia faz", acrescenta.
Acordo de paz e reviravolta
Em 1893, os alemães lançaram um ataque à aldeia de Witbooi e mataram dezenas de pessoas - o que fez com que Hendrik Witbooi mudasse de novo a sua tática. Assinou um acordo de paz com os alemães, fornecendo guerreiros Nama para lutarem contra outras tribos. Porém, uma década depois, Witbooi decidiu pôr um ponto final na situação. E em 1904, já com 80 anos de idade, o guerreiro liderou a rebelião dos Nama contra os alemães, tendo morrido numa destas batalhas um ano depois. Os alemães praticamente exterminaram os povos Nama e Herero naquele que é considerado o primeiro genocídio do século XX.
Lembrar a visão do "líder"
A rebelião dos povos Herero e Nama pode ter falhado. Mas o apelo de Witbooi por uma resistência unificada consolidou a sua reputação como um grande líder. E deve, na opinião de Anton von Wietersheim, continuar presente nos dias que correm. Segundo Anton von Wietersheim, no legado de Witbooi "devemos pensar na sua visão de unificar os povos e diferentes tribos contra qualquer ameaça externa. O tribalismo e o racismo é, definitivamente, para nós, na Namíbia, uma ameaça séria ao futuro comum".
Para além de ter o seu rosto nas notas e o seu nome em algumas ruas da Namíbia, Hendrik Witbooi deixou a sua marca também noutras coisas. Um dos diários onde registava as suas ideias, assim como cópias de cartas trocadas com outros líderes africanos e europeus sobreviveram. Ambos foram classificados pela UNESCO como património mundial documental num projeto que tem como objetivo preservar documentos e arquivos de grande valor histórico.
Victoria Averill, Renate Rengura e Gwendolin Hilse contribuíram para este trabalho. O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.