Há nove anos atrás, terminava guerra civil em Angola
4 de abril de 2011Depois de mais de três décadas de conflito armado entre o MPLA, atualmente o partido governista, e a UNITA, maior força da oposição, Angola alcançou a paz a 4 de abril de 2002 – depois que Jonas Savimbi, líder da UNITA, morreu em combate.
Nove anos depois, os ganhos da paz em Angola são visíveis, ao mesmo tempo em que ainda existe uma guerrilha ativa no enclave angolano de Cabinda, e que desigualdades sociais e falta de oportunidades iguais para todos os angolanos beliscam a reconciliação nacional que se pretende.
Quem assim avalia é Abel Chivucuvucu, político da UNITA. “Se houvesse sensibilidade para os que sofrem, para os pobres, se não houvesse tanta corrupção, tantos desvios, tanta roubalheira, com os extraordinários recursos de que Angola dispõe, teríamos dado passos maiores”, ataca Chivucuvucu. “Não é só o governo que constrói Angola. São todos”, diz o opositor, que pede a implementação de uma verdadeira democracia em Angola, direcionada para os cidadãos.
Nesta segunda-feira (4/4), a UNITA emitiu declaração dizendo que os angolanos continuam a ser "agredidos pelas armas da tirania, da ditadura e da exclusão social". A população seria igualmente agredida nos seus direitos à habitação, à saúde e ao emprego.
"Nove anos depois da conquista da paz militar, o Executivo utiliza novas armas para agredir os angolanos. São as armas da exclusão social, da intolerância política e da alienação cultural. Elas são apontadas e disparadas todos os dias contra os angolanos, especialmente contra os pobres e contra a juventude, que constitui o futuro da Nação", diz o documento.
Desigualdades sociais e econômicas são maior obstáculo à paz, diz religioso
“Há uma desproporcionalidade tão grande entre o poder econômico [e a sociedade angolana]... e as pessoas que já têm muito têm tanta preocupação em ter mais, que não criamos o mínimo de condições para que haja pessoas que possam crescer”, analisa Frei Mário Rui, do Centro Cultural Mosaico. “Isso não acontece nem na indústria, nem no comércio, nem na agricultura”, exemplifica. “Essas pessoas não podem então emergir de uma informalidade da economia”.
Já o antigo Primeiro-ministro angolano Marcolino Moco critica as injustiças sociais no país que, no seu entender, em parte se refletem no excesso de medo entre os angolanos: “Há pessoas que estão à espera de uma revolução para resolver tudo”, avalia.
O nacionalista Luís Neto Kiambata apela à realização de um trabalho conjunto, em Angola, para o que chamou de conciliação nacional e a consolidação da paz no país ocidental africano. “Só há reconciliação quando há conciliação, e nunca houve conciliação”, diz Kiambata.
Paz em Angola, conflitos em Cabinda
Cabinda é o único território de Angola que continua em guerra. Recentemente o governo angolano reconheceu que num confronto militar teriam morrido soldados das Forças Armadas Angolanas e independentistas da FLEC, a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda.
O comunicado sobre o reencontro militar é o mais recente reconhecimento sobre a existência de guerra na parte de Angola que mais contribui com o petróleo para o Orçamento Geral do Estado de Angola.
Em declarações à DW, Alfredo Miguel, acadêmico, sublinha que o estado deve criar condições para a garantia da estabilidade na província mais a norte de Angola. “Há subversão”, diz Miguel. “Existem forças hostis à realidade constitutiva do Estado e do governo. Há uma possibilidade de o Estado e de o governo garantir estabilidade desta parte territorial, por forma a que prossigam os esforços dedicados à paz. Devem avançar também os esforços dedicados à construção e à reconstrução nacional, assim como à reconciliação nacional e à unidade do território”, deseja o estudioso.
Autor: Manuel Vieira (Luanda), Renate Krieger, com agência Lusa
Revisão: António Rocha