Imprensa alemã questiona "passividade" em países africanos
29 de abril de 2011O jornal Tagesspiegel, de Berlim, escreve, por exemplo: “A primavera árabe continua a dar frutos, mesmo fora do Egito e da Tunísia. Nesta semana, a polícia da Mauritânia dispersou com violência uma manifestação de protesto em Nouakchott. Os velhos chefes de Estado africanos acompanham com inquietação evidente o que se passa no Cairo ou em Damasco, sem, no entanto, tentarem fazer reformas nos seus próprios países".
O jornal continua: "Enquanto a idade da população africana é em média de 25 anos, a dos seus dirigentes políticos é superior a 70. Muitos observadores ocidentais ficam surpreendidos com a tolerância ou a apatia com que as pessoas do Zimbabué ou da Guiné Equatorial (isto só para citar dois exemplos) suportam ditadores como Robert Mugabe ou Teodoro Obiang. Mas também no Chade, Angola, Camarões ou no Uganda governam homens que mesmo depois de três décadas, não querem abandonar o poder".
Muitos africanos “votam com os pés”
Em certos casos as pessoas resolvem o problema “votando com os pés", escreve o jornal. "Foi o caso do Zimbabué, onde centenas de milhares de pessoas deixaram o país. Contrariamente ao que aconteceu no Egito, fazer uma revolução em muitos países da África subsaariana é dificultado pela grande diversidade étnica. Ali é impossível que as pessoas sintam que pertencem a uma nação".
“Uma intervenção cínica” é como o diário liberal de Munique Süddeutsche Zeitung classifica a operação militar internacional na Líbia. “Esta intervenção é justificada com a obrigação de ajudar os líbios, oprimidos pelo chefe de Estado. Mas porque é que não se empreende nada contra outros ditadores que não são melhores que Kadhafi? Porque é que ninguém interveio no Uganda quando houve ali um genocídio? Ou no Sudão? Ou na Costa do Marfim?", indaga o Süddeutsche Zeitung.
Outros motivos para a intervenção na Líbia?
A verdadeira razão é provavelmente porque há petróleo na Líbia, pode ler-se. "E ao contrário de outros ditadores, Kadhafi não era subserviente ao Ocidente. Depois de chegar ao poder, fechou as bases militares norte americanas e britânicas no seu país, nacionalizou os bancos estrangeiros e diz-se que teria apoiado grupos terroristas."
"Se Kadhafi tivesse bombas atómicas, as Nações Unidas ter-se-iam mostrado mais reservadas", continua o jornal. "Só se recorre a soluções militares quando o risco não é demasiado grande. Isso verificou-se na revolta na Hungria, na crise de Cuba e no massacre em Pequim".
O Süddeutsche Zeitung prossegue: "Pelo contrário, quando há interesses em jogo, recorre-se às armas: na guerra das Malvinas, no Afeganistão ou no Iraque. Não admira por isso que os regimes ditatoriais se esforcem por ter armas atómicas".
Só mais tarde, escreve o jornal, é que saberemos se fazer esta guerra contra Kadhafi foi uma decisão acertada. "Para já sabemos que a diplomacia fracassou".
Em África, faltam vacinas para doenças que têm cura
O Tagespiegel refere-se a outra questão, agora na área da saúde. “Um dos Objectivos do Milénio das Nações Unidas é reduzir a mortalidade infantil até ao ano 2015 para um terço, em comparação com os números de 1990. Mas para o alcançar são precisos grandes esforços, sobretudo nos países africanos", escreve o diário.
O jornal sublinha que muitas crianças continuam a morrer em África de doenças contra as quais já existem no mercado vacinas eficazes. "Se fossem vacinadas, elas não morreriam", opina o Tagesspiegel. Um exemplo: "Na República Democrática do Congo morrem anualmente cerca de 130 mil crianças de tuberculose – uma doença que pode ser evitada com uma vacina simples. Outras doenças muito mortíferas, sobretudo entre as crianças, são a diarreia, difteria, tétano, tosse convulsa e hepatite B. Também elas podem ser evitadas ou curadas com os medicamentos apropriados”.
Autor: Carlos Martins
Revisão: Renate Krieger