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Cabo Delgado: Insurgentes "bem liderados"

Lusa | mc
27 de julho de 2020

Investigadores da Universidade Joaquim Chissano defendem que as forças de segurança devem adotar uma estratégia mais ofensiva conta "grupo bem liderado”, embora com fragilidades, que enfrentam em Cabo Delgado.

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Mosambik Cabo Delgado | Angriffe von Islamisten
Aldeia da paz, Macomia, depois de um ataque dos insurgentesFoto: AFP/M. Longari

A cada dois meses, o Centro de Estudos Estratégico e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano elabora relatórios sobre a situação de segurança em Moçambique. No último relatório, os docentes e investigadores sugerem que o Estado deve ter uma estratégia mais ofensiva contra os insurgentes em Cabo Delgado.

"Moçambique precisa reconhecer que enfrenta um grupo bem liderado, que se adapta com facilidade às condições que lhe são impostas e que está a saber aproveitar-se das lacunas e fraquezas do país, principalmente das Forças de Defesa e Segurança [FDS]", lê-se no relatório.

Para os pesquisadores, embora "bem liderado", o grupo responsável pelas incursões armadas em Cabo Delegado mostra fragilidades.

"Apesar de portarem armas de alto calibre, a sua capacidade de reposição de munições é limitada, isso justifica as suas investidas sobre os quartéis e acampamentos militares, que visam reabastecer o grupo com armas e munições", refere-se no documento.

Como devem atuar as FDS?

"Cabo Delgado também é Moçambique"

Para os investigadores, as Forças de Defesa e Segurança devem, por conseguinte, adotar estratégias mais ofensivas, obrigando os insurgentes a abandonarem os pontos de conflito.

"Tudo depende da capacidade das FDS identificarem os principais `choke-points´, dominarem as áreas estratégicas e estabelecerem postos de observação fixos munidos de meios de comunicação e observação.”

"As campanhas militares devem ser sequenciadas e continuadas para que nenhuma retirada dos terroristas lhes permita reagrupar em outro lugar", sugerem ainda.

O papel da população

Por outro lado, os pesquisadores entendem que é fundamental o apoio da população no combate contra os insurgentes em Cabo Delgado.   

"O policiamento comunitário é o primeiro estágio para a edificação da mentalidade de vigilância que precisa ser instalado ao nível das zonas de conflito para eliminar as ameaças", propõe o relatório.

Para além da situação em Cabo Delgado, o relatório aborda ainda os riscos para o país da pandemia de Covid-19. Os autores do estudo são Énio Chingotuane e Carlos Faria, ambos do departamento de Paz e Segurança, e Jossias Filipe, do departamento de Economia.

Mosambik Flüchtlinge vor Angriffen in Cabo Delgado in Metuge untergebracht (DW/D. Anacleto )
Deslocados internos em Metuge, Cabo DelgadoFoto: DW

A Universidade Joaquim Chissano surgiu da fusão do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), ao qual o centro pertencia, e do Instituto Superior de Administração Pública (ISAP), no âmbito de reformas no setor entre 2018 e 2019.

Os números de Cabo Delgado

Cabo Delgado é desde outubro de 2017 palco de ações de grupos armados que, de acordo com as Nações Unidas, forçaram à fuga de cerca de 250.000 pessoas de distritos afetados pela violência, mais a norte da província.

A capital provincial, Pemba, tem sido o principal refúgio para as pessoas que procuram abrigo e segurança em Cabo Delgado, mas há quem prefira fugir para outros lugares, incluindo Niassa e Nampula, províncias vizinhas.

O conflito armado naquela província já matou, pelo menos, 1.000 pessoas, e algumas das ações dos grupos armados têm sido reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI).