Intelectuais de Cabinda "estão-se a render" ao MPLA?
9 de fevereiro de 2018Na quinta-feira (08.02), o governador de Cabinda Eugénio César Laborinho, anunciou que o Padre e ativista Casimiro Congo vai ser o novo secretário provincial de Educação, Ciência e Tecnologia de Cabinda. Também, surpreendeu as pessoas ao indicar para assumir a pasta da Saúde, Maria Carlota Ngombe Victor Tati, esposa do deputado independente pela UNITA, Raúl Tati. Na sequência do anúncio, surgiram várias reações de diversos setores da sociedade a criticar, em particular, o Padre Congo por ter aceitado o cargo e deixar de lado a sua luta pela independência de Cabinda.
Para o jornalista e analista angolano, Orlando Castro, estas nomeações "é uma jogada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), versão João Lourenço”. Ele considera que para aqueles que sempre defenderam a "autonomia" e a "independência" de Cabinda foi "um erro crasso esta rendição ao MPLA”. Por outro lado, defende que "do ponto de vista de Angola, das virtudes e da generosidade que o João Lourenço está a fazer em relação a Cabinda, entendendo Cabinda como uma província de Angola, até pode ser bom”.
DW : As recentes nomeações para o Governo provincial de Cabinda estão a dar que falar. Como é que interpreta as escolhas do Governo?
Orlando Castro (OC) : Interpreto como uma jogada de mestre do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), versão João Lourenço. É uma forma de a massa cinzenta intelectual de Cabinda ter atirado a toalha ao chão, rendendo-se ao poder do MPLA ou ao poder de Angola.
DW : Estas nomeações podem indicar uma nova abordagem de João Lourenço em Cabinda, mas de uma forma negativa?
OC : Numa forma negativa na perspetiva dos cabindas que sempre defenderam o caminho da independência, como foi o caso do Padre Casimiro Congo. E portanto, neste sentido, dos que defendem a autonomia até a independência de Cabinda, acho que foi um erro crasso esta rendição ao MPLA. Do ponto de vista de Angola , das virtudes e da generosidade que o João Lourenço está a fazer em relação a Cabinda, entendendo Cabinda como uma província de Angola, até pode ser bom. Acredito que venha a ser bom. Há, de facto, uma colisão entre estas duas teses. A tese dos que defendiam a independência, como foi o caso do Padre Congo, não se coaduna com esta aceitação de um cargo de um Governo que ele chamava de colonial. O Padre Casimiro Congo dizia que o MPLA, Angola no caso, era potência ocupante de Cabinda. E portanto, para esta gente que defendia isto, aceitar estes cargos é uma rendição.
DW : Nas redes sociais, as nomeações já estão a gerar alguma contestação. Entende portanto que os cabindas, principalmente os mais críticos, têm razão para estarem apreensivos?
OC: Têm nesta perspetiva, digamos política, em relação àquele território. E estão sempre em confronto estas duas teses. Do ponto de vista da população, que aceita, se é que aceita, pacificamente, ser uma província de Angola, isto até poderá ser bom, porque o MPLA está com uma nova filosofia em relação ao território e pode melhorar as condições de vida do povo de Cabinda, o crescimento económico pode ser mais sustentável e pode haver uma grande evolução em Cabinda, isso é um aspeto. Do aspeto histórico, que por acaso é o que eu perfilho, que Cabinda não faz parte de Angola, aí perdem toda a razão. Alias, já houve casos antecedentes: Bento Bembe também tinha estas ideias e depois foi "comprado" pelo MPLA e passou a integrar o Governo. O que nós estamos a assistir, é que as pessoas com mais capacidade intelectual e política de Cabinda a renderem-se às mordomias que o regime do MPLA lhes vai dando.