Interesses económicos condicionam adesão da Guiné Equatorial à CPLP
9 de abril de 2014Assim, por exemplo, o ex-Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, e o ex-ministro português dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz, manifestaram-se favoráveis à entrada na organização lusófona, do país de Teodoro Obiang Nguema. A Guin Equatorial é o terceiro maior produtor de petróleo da África subsaariana, depois de Angola e da Nigéria, o que, dizem os críticos, pesa mais na decisão do que situação dos Direitos Humanos e Civis naquela nação africana.
O ex-presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, por exemplo, não vê razão nenhuma que justifica a rejeição do pedido de admissão da Guiné Equatorial a membro de pleno direito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como afirmou em declarações prestadas à DW África: “Não estou na política ativa, mas eu acho que devem respeitar as opções estratégicas dos estados africanos e dos estados membros da CPLP. Quando decidem, decidem por interesses ou por objetivos estratégicos”.
A importância da Guiné Equatorial
O presidente do Instituto Pedro Pires para a Liderança, que esteve esta semana em Lisboa para falar das relações políticas,económicase culturais entre a América Latina, Europa e África, disse ainda não ver porque razão a CPLP deve ser a “organização mais puritana deste mundo”. Lembrando que a Guiné Equatorial está nas Nações unidas e na união Africana, Pedro Pires acrescentou não compreender porque “o puritanismo da CPLP deve continuar”.
À margem do Terceiro Encontro sobre aquele triângulo estratégico, que encerrou na terça feira, 8 de Abril, também António Martins da Cruz, ex-ministro português dos Negócios Estrangeiros, disse ser a favor da integração oficial da Guiné Equatorial na família dos Estados lusófonos. Segundo Martins da Cruz, o país cumpriu o roteiro da CPLP sobre a aprovação do Português como língua oficial e a adoção de uma moratória sobre a pena de morte. O diplomata português destaca a importância do país dirigido pelo Presidente Obiang Nguema como o produtor de petróleo: “Aliás, se nós tivermos em conta que, daqui a vinte anos, os países da CPLP vão produzir 20% do total do gás e do petróleo produzido no mundo, ainda aumenta mais a importância que tem, neste quadro, a Guiné Equatorial”.
Interesses e Direitos Humanos
Para Martins da Cruz, é mais interessante ter este país da África Central dentro da Comunidade do que fora dela. Argumenta que esta integração pode ajudar o Governo, as instituições e a opinião pública equato-guineense a aproximarem-se mais do pensamento comum, na cultura, na história e na língua que unem os povos da CPLP.
Por outro lado, o ex-governante português desvaloriza a questão do desrespeito dos Direitos Humanos pela Guiné Equatorial: “Se Portugal só tivesse relações com países que têm o nosso modelo democrático e o nosso modelo de respeito dos Direitos do Homem, então só tinha relações com 30 ou 40 países no mundo. A política externa não se decide com emoções, decide-se com interesses”.
A resistência organiza-se
Uma opinião que não é partilhada por todos os políticos da CPLP. Recentemente, numa audição pública em Lisboa, a eurodeputada socialista, Ana Gomes, manifestou o seu protesto perante esta mudança de posição de Portugal a favor da entrada da Guiné Equatorial na organização lusófona: “Estamos a falar de um dos países que tem dos rendimentos per capita mais elevados do mundo, mas obviamente as estatísticas mentem porque esse rendimento não é o da população. É um rendimento extremamente desigual, em que a família Obiang e os seus próximos, vivem numa riqueza obscena, gastando os recursos do Estado, e não em favor da população”.
Ana Gomes refere que mais de metade da população na guiné Equatorial não tem água potável, nem eletricidade, não obstante os recursos do país, graças ao petróleo. E garante que tudo fará em conjunto com os vários movimentos da sociedade civil para impedir o processo de adesão em marcha, que poderá concretizar-se na cimeira dos chefes de Estado e de Governo da CPLP, prevista para o mês de julho deste ano, em Timor Leste.