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Inundações em Moçambique: Falta "estratégia política"

Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
9 de fevereiro de 2017

As cheias do rio Limpopo, em Gaza, obrigaram à retirada de 1170 pessoas das suas residências para zonas mais seguras. Analista diz que solução para os problemas cíclicos de inundações passa pela construção de represas.

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Mosambik Überschwemmungen in Limpopo
Ponte sobre o rio Limpopo em GuijáFoto: DW/C. Matsinhe

Na província de Gaza, sul de Moçambique, a bacia hidrográfica do Limpopo transbordou. Como consequência estradas ficaram cortadas e campos agrícolas já semeados foram inundados.

Uma forte onda hídrica, de quatro mil metros cúbicos por segundo, atinge, desde a semana passada, os distritos de Chokwé, Chibuto, Chicualacuala, Guijá e Mabalane.

A subida do nível das águas do Limpopo está a destruir as alternativas de sobrevivência de uma parte das 224 mil pessoas afetadas pela fome em Gaza, na sequência da estiagem severa dos últimos dois anos.

Avisos atempados

No povoado de Chiduachine, muitas pessoas, por viverem em zonas de risco, foram forçadas a abandonar as suas habitações com o transbordo do rio Limpopo.

Überschwemmungen in Mosambik 2013
Em janeiro de 2013, as cheias no sul de Moçambique deixaram 70 mil desalojadosFoto: AFP/Getty Images/T. Cumbana

José Ussivane sublinha que, este ano, a população foi prevenida a tempo. "Acabamos vivendo nestas zonas de risco, porque é onde praticamos a agricultura, criamos os nossos animais. Este ano pelo menos fomos informados a tempo desta onda e conseguimos sair com os nossos bens", conta.

Ussivane, de 43 anos, deixa ainda um pedido às autoridades: "Queremos que o Governo nos crie condições de melhorar a água porque os poços foram atingidos pelas inundações."

Até ao momento, nenhuma família precisou de ser deslocada para centros de acomodação, segundo Manuel Machaieie, delegado do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades em Gaza.

Cheias podem repetir-se

Mosambik Überschwemmungen in Limpopo
Instituto Nacional de Gestão de Calamidades em GazaFoto: DW/C. Matsinhe

As estradas Guijá-Mabalane, Guijá- hivonguene, Guijá-Chibuto e Chibuto- Chissano estão cortadas. A travessia é assegurada por embarcações a motor e a remo. Manuel Machaieie, do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), avisa que as populações devem continuar atentas.

"Continuamos a apelar às populações que vivem nas zonas de risco de inundações ou cheias que se devem retirar da zona de risco porque ainda estamos no meio do segundo período da época chuvosa. Significa que podemos [voltar a] ter situações similares às que tivemos agora", alerta.

 Manuel Machaieie reitera que a população deve continuar a "fixar-se nas zonas seguras ou em casa dos familiares”, levando "aquilo que têm para usar onde estiverem."

Represas como solução

Para Carlos Mhula, analista social em Gaza, os problemas cíclicos de inundações e seca devem-se à "falta de estratégia" dos decisores políticos para uma zona tão arável como o vale do Limpopo.

Na opinião do analista, a solução passa pela construção de represas ao longo dos rios que atravessam a província do sul de Moçambique. "Com as represas podemos ter água que pode fazer com que os animais sobrevivam, as pessoas façam alguma produção agrícola. Isso é falta de estratégia, de imaginação", afirma.

Problemas cíclicos de inundações em Moçambique devem-se a falta de estratégia política, diz analista

Carlos Mhula dá ainda o exemplo da África do Sul e do Zimbabué que "vivem de represas", sublinha. "Nós não podemos fugir disso", constata.

Para o analista, o projeto em carteira de construção de uma barragem na Bacia do Limpopo, no distrito de Mapai, é bem-vindo. Ainda assim, Mhula sublinha que essa pode não ser a solução, perante o fenómeno das mudanças climáticas, caracterizado por secas severas e, por vezes, chuvas acima do normal.

A barragem de Massingir, na província de Gaza, pode ser um exemplo: ficou mais de dois anos sem água para irrigar campos agrícolas. Os efeitos não seriam tão drásticos, segundo o analista social Carlos Mhula, se houvesse ao longo Limpopo pequenas represas.