"Investimento Frontier por esclarecer em Moçambique"
15 de dezembro de 2017Em Moçambique, a Ematum, uma das empresas envolvidas nas chamadas dívidas ocultas, anunciou a entrada de um novo investidor. Trata-se da Frontier Services Group, cujo dono tem um histórico empresarial considerado duvidoso.
Por exemplo, Erik Prince teve a sua empresa de segurança Blackwater envolvida na morte de 18 pessoas a quando da guerra no Iraque. Esta mesma empresa prestou serviços ao Governo dos Estados Unidos avaliados em cerca de 2 mil milhões de dólares.
Para o analista moçambicano Jaime Macuane, a natureza deste investimento do empresário norte-americano ainda precisa ser esclarecida. Da mesma forma, Macuane lembra que as empresas públicas ainda devem explicar com mais clareza o destino dos empréstimos contraídos ilegalmente entre 2013 e 2014.
Confira a íntegra da entrevista:
DW África: A entrada da Frontier na Ematum, MAM e ProIndicus seria a salvação das companhias moçambicanas?
Jaime Macuane (JM): Depende do quê que se quer salvar, porque existem questões que não foram respondidas nesse tempo todo, por exemplo – o que é uma demonstração de qual é o potencial da existência deles [dos dados das empresas]. Nunca vi estes números. Isso é uma coisa que mais tarde já foi arrolada. Uma parte foi para gastos com a defesa. Então, ainda tenho dúvidas do modelo de negócio existente aí, o quê que de facto estavam à espera de rentabilizar, e qual é a magnitude de empréstimo que é de facto realista do ponto de vista de investimento para se ter o retorno. Então, tenho dúvidas a esta altura se isto muda algo ou não.
DW África: Erik Prince tem um passado empresarial duvidoso. Foi dono de uma empresa de segurança, a Blackwater Security, que esteve envolvida na morte de 18 iraquianos há alguns anos. Este seria o perfil ideal para o investidor para empresas públicas, ainda por cima empresas polémicas à partida?
JM: É legítimo que um Estado como Moçambique, não só por uma questão de manter a sua soberania e integridade territorial, tenha segurança marítima. Mas torna-se também importante que assim o faça neste momento, quando aumentam os riscos pelo facto de ter muitas riquezas. Isso explica. Agora, o que não ficou claro nesta operação, infelizmente, é que, ao invés de se discutir isso, houve uma espécie de "diabolização" quando se pôs este assunto, pelos menos por parte daqueles que arquitetaram esta ideia supostamente patriótica de defesa da soberania. Estamos a mudar o modelo de organização da nossa defesa. Por exemplo, empresas já passam a fazer parte disto. Este é que é o ponto que, para mim, é fundamental. Essa entrada [da Frontier] mantém este modelo e adia uma discussão de soberania fundamental, que faz sentido que a gente confie às empresas a defesa de parte do nosso território. Repare que há países que fazem isto. Portanto, não é nada novo. A questão é que, se nós estamos a adotar esta forma, será que esta ideia se discutiu nos fóruns próprios, e está a ser feito em respeito à Constituição, além, claro, do que foi feito às dívidas ocultas. Para mim há uma questão de princípio.
DW África: O que há nessas três polémicas empresas em Moçambique para que o empresário como Erik Prince se interesse em investir. Ele já prestou serviço, por exemplo, para o Governo norte-americano. Moçambique tem um mercado assim, tão atrativo, para uma pessoa desta envergadura?
JM: Moçambique é muito mais atrativo, sem dúvida. Primeiro, pela posição estratégica. Muito mais do que estar a olhar para as riquezas do próprio país, é preciso ter-se em conta que é uma rota comercial importante. Mas, temos também a questão da segurança marítima voltada para os grandes investimentos que vão ser feitos. São dezenas de bilhões de dólares. Sem dúvida que temos aqui um mercado promissor. Principalmente numa região propensa a alguma atuação de piratas. Naturalmente que para alguém que tem experiência na área este é um negócio muita atrativo.