Jatropha moçambicana adquirida pela Lufthansa cresceu em terras férteis
18 de janeiro de 2012Depois da companhia aérea alemã Lufthansa ter obtido sucesso nos testes que fez usando biocombustíveis em suas aeronaves, crescem agora as especulações de como a empresa pretende agir daqui por diante.
Este mês a Lufthansa anunciou que com o biocombustível à base de óleos vegetais e animais evitou a emissão de 1,5 mil toneladas de dióxido de carbono. Este resultado incentiva ainda mais ao uso da mistura, uma vez que a nova lei da União Europeia é clara: a partir deste ano, todas as companhias aéreas com voos de origem ou destino na Europa precisam comprovar emissão de CO2 por meio de créditos de carbono. Quanto mais CO2 o avião liberar, mais cara se torna a viagem para a companhia aérea.
Mas não é só isso
Por enquanto a Lufthansa ainda enfrenta outro problema: não existe matéria-prima suficiente no mercado para a produção de bioquerosene. Por isso a companhia alemã voltou a fazer uso do querosene fóssil.
Mas além do problema de logística de mercado, a empresa enfrenta as críticas de organizações ambientalistas. Recorda-se que quando a Lufthansa precisou, importou parte da planta jatropa de Moçambique.
Para Evelyn Bahn, da ONG alemã INKOTA especializada na África Austral, a iniciativa da Lufthansa não muito sábia: "a Sun Biofuels que forneceu a jatropha à Lufthansa cultivou a planta em solos férteis. E antes da Sun Biofuels, esta terra era utilizada por agricultores para o cultivo de verduras e ainda antes disso, a mesma área era usada para o cultivo de tabaco".
Evelyn Bahn ressalta que ao contrário do que defende a Lufthansa, de que a jatropha cresce em solos menos férteis, a planta utilizada pela companhia áerea foi cultivada em terras bastante férteis. "Num país como Moçambique, onde 35% da população passa fome, não se entende porque se cultiva uma área para a produção de biomassa em vez de alimentos", questiona a ambientalista.
Para a INKOTA, a Lufthansa não respeitou as diretrizes sociais e ecológicas, defendidas pela própria companhia nos numerosos discursos. "A jatropha pode ser cultivada em solos menos férteis, mas neste caso a renda também será parcial. Por isso que empresas como a Lufthansa ou a Sun Biofuels apostam no cultivo da jatropha em solos férteis".
Mas isso ainda não é tudo. Evelyn Bahn enfatiza que o fato desta planta necessitar de água, "poderá levar a ainda outros conflitos em Moçambique."
Lufthansa se defende
Sobre as acusações da INKOTA, o porta-voz da Lufthansa Peter Schneckenleitner disse que a empresa conhece "muito bem as exigências éticas" e que a própria Lufthansa tem metas a cumprir no que se refere à sustentabilidade da biomassa utilizada.
Peter Schneckenleitner relatou que companhia aérea está ciente das críticas e das discussões ambientais em torno da utilização de biocombustíveis e não descartou a responsabilidade da Lufthansa: "nossa matéria-prima precisa ser cultivada de modo sustentável, bem como precisa ser certificada. Esta deverá ser a base na qual queremos trabalhar no futuro".
Jatropha em Moçambique
Ao ser questionado quanto ao futuro da jatropha, Peter Schneckenleitner disse que a empresa está analisando diferentes tipos de biomassa bem como outras variações de matéria-prima.
Na entrevista à DW, mencionou, por exemplo, um tipo de alga, rica em energia, mas ressaltou que ainda é cedo para dizer de quais regiões virá o material ou até mesmo qual será a próxima matéria-prima usada em uma nova mistura de biocombustível.
Diferente do que se acreditava há alguns anos, a jatropha parece não ser tão rentável. A empresa britânica Sun Biofuels responsável por fornecer a jatropha à Lufthansa já anunciou falência.
Para Peter Schneckenleitner, a jatropa é com certeza uma planta interessante para a produção de biocombustível, mas usá-la ou não irá depender das condições nas quais a planta é cultivada. "Primeiro precisamos ter certeza de que a planta foi cultivada em condições de sustentatibilidade", esclarece.
Autora: Bettina Riffel
Edição: António Rocha