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Jean-Pierre Bemba já está na República Democrática do Congo

Bob Barry | Raquel Loureiro | Reuters | AFP
1 de agosto de 2018

O ex-vice-presidente do país regressou esta quarta-feira a Kinshasa, onde foi recebido por milhares de apoiantes no aeroporto. Defensores dos direitos humanos não deixam esquecer as atrocidades de que foi acusado.

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Kongo Ankunft Oppositionsführer Jean-Pierre Bemba
Jean-Pierre Bemba chegou num jato privado acompanhado pela sua esposaFoto: Reuters/J. R. N'Kengo

Esta quarta-feira (01.08) é um dia especial para os ativistas e líderes do Movimento para a Libertação do Congo (MLC). Depois de 11 anos fora, Jean-Pierre Bemba, presidente do MLC, voltou a aterrar, esta manhã, em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC), acompanhado pela sua esposa. Bemba viajou num avião particular.

À sua espera estavam de milhares de pessoas que acreditam que o regresso do antigo vice-presidente ao país pode ser uma oportunidade para a mudança da política no país. O regresso de Bemba foi autorizado pelo Governo congolês, que lhe deu garantias de segurança. Foi montado um forte dispositivo policial, com centenas de polícias a fazer a segurança, quer no aeroporto, quer nas principais ruas de Kinshasa e à volta da sede do partido do MLC. No entanto, à chegada de Bemba, a polícia disparou gás lacrimogéneo.

Marie-Josée Bunsana, membro do comité executivo do MLC, foi uma das pessoas que se desclocou ao aeroporto de Kinshasa. À DW África conta que: "Vieram muitas pessoas para receber o presidente do Movimento para a Libertação do Congo. Há muito entusiasmo, muita alegria".

Desde que Jean-Pierre Bemba foi ilibado pelo Tribunal Penal Internacional, em junho deste ano, que os holofotes têm estado apontados para si e para a possibilidade da sua candidatura às eleições presidenciais, marcadas para 23 de dezembro. Hipótese esta que foi dada como certa na semana passada pelo próprio.

Yves Kitumba, um dos responsáveis pela comunicação do MLC reafirma isso mesmo. "Ele vai apresentar a sua candidatura antes de partir para a cidade de Gemena". "Estamos a trabalhar para a união da oposição]. Jean-Pierre Bemba voltou com a missão de unir toda a oposição. É um imperativo para vencer as eleições", avança.

Kongo Ankunft Oppositionsführer Jean-Pierre Bemba
Milhares de pessoas deslocaram-se ao aeroporto para receber Jean-Pierre BembaFoto: Reuters/K. Katombe

Ainda assim, a possibilidade do seu regresso poder vir a dar uma nova energia à oposição para fazer frente a Joseph Kabila, cujo mandato terminou no final de 2016, não deixa esquecer as atrocidades cometidas na República Centro-Africana pela milícia comandada por Bemba. Dominique Kamuandu, advogado e defensor dos direitos humanos, lembra que "há fortes indícios que pesam sobre estes homens", no entanto, acrescenta, "é díficil definir uma posição" acerca do tema. "As pessoas que viviam nas províncias sob a influência do MLC avaliavam as coisas de maneira diferente das que estavam longe de tudo", constata.

Incertezas políticas

O regresso de Jean-Pierre Bemba está a abalar o cenário político da RDC. A facilidade com que as autoridades congolesas abriram as portas do país e a rapidez com que foi emitido um passaporte diplomático para Bemba surpreendeu muitos. Para alguns, o regresso do homem forte da oposição congolesa passa a ser uma pedra no sapato de Moise Katumbi, que está no exílio, e que era até aqui o nome da oposição mais apontado para fazer frente ao Presidente congolês nas próximas eleições.

Jean-Pierre Bemba já está na República Democrática do Congo

Tekys Mulayila, coordenador do grupo parlamentar do movimento presidencial, diz-se satisfeito com o retorno de Jean-Pierre Bemba, no entanto, chama a atenção para a diferente realidade que o líder da oposição encontrará no país que deixou há uma década. "Ele [Bemba] estava na prisão. Agora está livre. Se retomar o comportamento que teve durante o período rebelde, sofrerá o rigor da lei. Já não estamos em guerra. Se alguém vier e autorizar a ação das milícias, a constituição será aplicada. Os tribunais existem", afirma.

Jean-Pierre Bemba passou os últimos dez anos na prisão de Scheveningen, em Haia, na Holanda, por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos na vizinha República Centro-Africana, entre 2002 e 2003. Regressa agora ao seu país convicto de que é o candidato mais forte para representar a oposição nas eleições presidenciais, ainda que, em declarações recentes, tenha deixado espaço a que outro candidato represente a oposição, se assim for o desejo da maioria.

A candidatura de Bemba às eleições está em risco também por outro motivo. A coligação no poder, afeta ao Presidente Joseph Kabila, reinvindicou uma nova condenação do político no TPI, por alegada manipulação de testemunhas.

Num discurso proferido a 19 de julho, em Kinshasa, Joseph Kabila realçou o seu "compromisso com a Constituição", mas não avançou se se volta a candidatar à Presidência, uma ação proíbida precisamente pela Carta Magna do país.

O prazo para apresentar candidaturas termina a 8 de agosto.