Jornalista ameaçado: "Coincidência que me deixa a tremer"
3 de setembro de 2024O jornalista e correspondente da TV Sucesso, em Cabo Delgado, Rui Minja, tem vindo a receber ameaças de morte. Desde o sábado (24.08), dia do início da campanha eleitoral em Moçambique, o repórter tem sido alvo de chamadas telefónicas, mensagens ameaçadoras e até mesmo de visitas indesejadas de indivíduos desconhecidos, que se têm apresentado à porta de sua casa durante a madrugada.
Tudo começou após Minja publicar uma nota sobre a proibição policial imposta aos apoiadores da campanha do candidato presidencial independente Venâncio Mondlane de realizarem um churrasco.
O Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA-Moçambique) repudiou hoje as "ameaças de morte" contra Rui Minja e exigiu uma "investigação célere" ao caso.
Em entrevista à DW, o próprio jornalista apela às autoridades para que desvendem o caso e prendam os criminosos, revelando o horror que tem sido a sua rotina.
DW África: Rui Minja, tem estado a receber ameaças?
Rui Minja (RM): Estou sendo realmente vítima de perseguição. No sábado (24.08), pessoas desconhecidas ligaram-me duas vezes e não atendi. Quando atendi, na terceira chamada, a pessoa disse: "Sabemos que não está a dormir, não está com sono. Saia agora. Estamos aqui fora da sua casa e estamos a pedir para vir. Caso não aceite, vamos arrombar a sua porta e o que vai acontecer, Deus é quem sabe."
Quando ouvi isso, algo que nunca tinha acontecido antes na minha vida, fiquei assustado, perdi o ar e cortei a chamada, cortei a ligação.
DW África: O senhor chegou a sair da sua casa e a ver pessoas lá?
RM: Não saí de casa porque já sabia que eram pessoas mal intencionadas. Só consegui ver a viatura que estava estacionada bem ao lado do portão do meu quintal. Não é uma pick-up, mas uma dupla cabine. Mas não consegui ver o rosto das pessoas, nem consegui identificar o modelo e nem a matrícula da viatura.
DW África: O que é que se passou a seguir?
RM: Mandei mensagens nos grupos do WhatsApp de jornalistas moçambicanos e nos grupos de familiares pedindo socorro, porque homens supostamente perigosos, que também disseram estar armados, estavam a cercar a minha casa. E 50 minutos depois a polícia chegou. Só que as pessoas já não estavam lá fora, tinham abandonado o local.
DW África: Mas voltou a receber ameaças?
RM: Sim. Por temer pela minha saúde, deixei a minha casa e só retornei na segunda-feira. Na quarta-feira (28.08), quando pensava que tudo estava certo, as pessoas voltaram à minha casa. Ligaram-me de números diferentes e as mensagens não pararam até hoje. Ameaçam que vão matar-me, vão executar-me porque alguém os mandou para poderem me matar e vieram de Nampula para Pemba para tirar a minha vida a troco de 450 mil meticais (cerca de 6.400 euros).
DW África: Está certamente com medo de que as ameaças sejam concretizadas?
RM: Estou com muito medo porque não percebo a pretensão dessas pessoas e nem faço ideia de quem pode ser o mandante. Se calhar, pode ser uma pressão política, não sei. Mas não associo isso a pressão política e nem a alguma pessoa em particular.
DW África: De que forma pretende reagir?
RM: O MISA-Moçambique já acionou um advogado para tratar do assunto, porque mesmo após o acontecimento, com as mensagens e com evidências, ainda não há resposta das autoridades moçambicanas. Digo isto porque fui ao SERNIC, fui à polícia, entreguei os contatos das pessoas que estão a ligar para mim, identificam-se pelos nomes, e até este momento não há uma resposta clara.
DW África: O que acha que pode ter motivado esta situação?
RM: Publiquei uma nota a noticiar que policiais estavam a proibir apoiantes de Venâncio Mondlane de realizarem um churrasco no dia 23 de agosto, um dia antes do início da campanha eleitoral. E na madrugada do sábado (24.08), foi que os homens apareceram na minha casa. Não digo que é por conta disso, mas é uma coincidência que me deixa a tremer. Moçambique é um dos países de África e do mundo onde a liberdade de expressão e de imprensa é vista como ameaçada sempre. Gostava de pedir, com toda a humildade, às autoridades moçambicanas que trabalham neste caso para que façam um trabalho profundo para que se encontre os autores e se esclareça este caso.