Jornalista detido em Cabo Delgado foi transferido
17 de janeiro de 2019O porta-voz da Procuradoria Provincial, Armando Wilson, disse à agência de notícias Lusa que Amade Abubacar foi transferido na segunda-feira (14.01) de uma base militar em Mueda para o comando distrital da polícia, após a sua detenção a 5 de janeiro no terminal dos transportes de passageiros do distrito de Macomia, quando fotografava famílias que abandonavam a região com receio de ataques armados que têm sido protagonizados por desconhecidos em Cabo Delgado.
De acordo com o porta-voz, o Ministério Público recebeu o auto da Polícia moçambicana, através do Serviço Nacional de Investigação Criminal de Moçambique (SERNIC), que acusa Amade Abubacar de "instigação pública com recurso a meios informáticos".
Segundo a fonte, Amade Abubacar poderá ser ouvido nos próximos dias pelo tribunal em Macomia.
A Lusa contactou o pai do jornalista, Abubacar Artur, que disse não ter conhecimento da transferência do seu filho.
Críticas a detenção
Amade Abubacar é jornalista da rádio comunitária Nacedje, além de colaborar com o portal "Zitamar News" em Moçambique.
Organizações da sociedade civil e entidades ligadas à liberdade de imprensa, moçambicanas e estrangeiras, têm estado a exigir a libertação de Amade Abubacar, considerando que se trata de uma detenção ilegal e uma intimidação à liberdade de imprensa.
Este é o segundo caso de detenções de jornalistas na província de Cabo Delgado nos últimos dois meses.
Em dezembro, o Instituto de Comunicação Social da África Austral denunciou a detenção pelo Exército moçambicano de três jornalistas estrangeiros e um moçambicano a caminho do distrito de Palma, na mesma província.
Distritos recônditos da província de Cabo Delgado, no extremo nordeste do país, têm sido alvo de ataques de grupos desconhecidos desde outubro de 2017.
A onda de violência naquela zona começou após um ataque armado a postos de polícia de Mocímboa da Praia, em outubro de 2017.
Depois de Mocímboa da Praia, têm ocorrido dezenas de ataques que se suspeita estarem relacionados com o mesmo tipo de grupo.
De acordo com números oficiais, cerca de 100 pessoas, entre residentes, supostos agressores e elementos das forças de segurança, morreram desde que a onda de violência começou naquela zona do país.