Jornalista moçambicano ameaçado de morte
15 de dezembro de 2016É mais um caso de ameaças à liberdade de impressa e expressão em Moçambique. John Chekwa contou à DW África que homens armados alegadamente das Forças de Defesa e Segurança invadiram a sua casa, recentemente (08.12), tendo espancado dois dos seus filhos. Um outro filho terá sido raptado e libertado mais tarde noutro ponto da vila-sede de Catandica, província de Manica, centro do país.
O filho do jornalista que foi raptado disse que na mesma viatura estavam debaixo dos bancos mais pessoas, que se supõe serem membros ou apoiantes da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o maior partido de oposição, que também teriam sido raptados no distrito de Barué.
O rapto "foi uma tentativa de acabar com a minha vida”, afirmou John Chekwa. “Falharam a missão, mas continuo a sentir-me muito ameaçado”, desabafa o jornalista moçambicano. Neste momento, Chekwa encontra-se refugiado fora da vila de Catandica temendo novos incidentes.
Tentativas de contactar a polícia no distrito de Barué foram infrutíferas. O comandante distrital da Polícia da República de Moçambique em Barué prometeu pronunciar-se oportunamente
Voz incómoda
John Chekwa, que é também agente facilitador do Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, não tem dúvidas sobre o que poderá estar na origem das ameaças: "Tenho certeza que isto tudo é o resultado do meu trabalho, sobretudo na defesa da causa pública, justiça social e da boa governação".
Além disso, "sou considerado responsável pela derrota do partido FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique] em Barué, na província de Manica”, explica o jornalista e coordenador rádio comunitária de Catandica.
John Chekwa terá convidado para os programas da rádio pessoas bastante críticas à governação da FRELIMO. Por outro lado, a Rádio Comunitária de Catandica e o seu coordenador são acusados de terem sido os responsáveis, nos últimos três anos, pelas quedas do administrador, do secretário permanente e do primeiro secretário da FRELIMO, no distrito de Catandica. O que terá acontecido na sequência do jornalista ter denunciado, em 2013, o esquema do desvio de fundos de Estado para financiar a campanha eleitoral do partido FRELIMO.
Assim, John Chekwa e a Rádio Comunitária de Catandica passaram a ser vistos como instrumentos da oposição. E no contexto de instabilidade político-militar, o jornalista passou a integrar a lista de alvos dos chamados "esquadrões de morte", revelou o Instituto de Comunicação Social para África Austral, MISA-Moçambique.
Entretanto, num comunicado divulgado recentemente (08.12), o MISA-Moçambique considerou que "a vandalização, roubo de bens, tortura aos filhos e ameaça de morte ao jornalista são atos graves que atentam contra o direito à liberdade de imprensa e de expressão".
No documento, a organização pede aos órgãos governamentais e da justiça que "levem a sério, não só estes actos, como também todo o tipo de violações ou tentativas de violação da liberdade de imprensa e de expressão no país". O MISA-Moçambique apela ainda à Polícia e à Procuradoria-Geral da República que investiguem, identifiquem e responsabilizem os autores desta ameaça.