José Mário Vaz recandidata-se às presidenciais
30 de agosto de 2019À quarta foi de vez. Depois de ter pedido aos seus simpatizantes, em três diferentes ocasiões, tempo para refletir sobre a decisão a tomar, o chefe de Estado cessante, José Mário Vaz, anunciou finalmente a sua recandidatura à Presidência da República da Guiné-Bissau.
Foi na presença de centenas de apoiantes vindos de diferentes pontos do país que José Mário Vaz assumiu, em Bissau, que será candidato nas eleições presidenciais marcadas para 24 de novembro.
"Afirmo hoje aqui e perante vós, meus irmãos e povo da Guiné-Bissau, que é por vós, para realizar os vossos anseios, continuarmos juntos a fazer desta terra um grande país, que eu sou candidato às eleições presidenciais", afirmou José Mário Vaz, seguindo-se um grito de júbilo da plateia.
"Presidente de Paz"
Ao justificar a decisão de se recandidatar à sua própria sucessão, Vaz definiu-se como um Presidente de paz, patriota, "ciente da responsabilidade de ocupar o cargo de mais alto magistrado da Nação".
"As minhas mãos são limpas. Há quem me chame, e não me importo, o Presidente mais pobre de África. Prefiro assim. Prefiro que o meu povo me respeite do que digam que sou rico e que fico com o dinheiro que é do povo", disse.
"Conto convosco e sei que contam comigo. Juntos, a caminho do progresso com este Presidente de Paz. No dia 24 de novembro, conto convosco, a Guiné-Bissau precisa de todos nós."
Candidatura "falhada"
José Mário Vaz concluiu o mandato constitucional a 23 de junho e, em jeito de balanço, referiu que os últimos "cinco anos foram anos de luta, luta feroz, sem tréguas, com ameaças físicas e verbais contra mim e contra a minha família, e contra todos os que defendem e comungam comigo as mesmas causas".
O analista político guineense Suleimane Cassamá comenta, no entanto, que "ao fazermos o balanço do mandato de José Mário Vaz, constatamos que ele fugiu de todas as regras que regem um país de direito e democrático, como é o caso da Guiné-Bissau. Não respeitou a Constituição. Ao invés de unir os guineenses, fez o contrário, dividindo-os."
Por isso, Cassamá conclui que esta candidatura é um erro: "Eu diria que é completamente falhada, tanto em termos subjetivos, que não nos interessa muito, como em termos objetivos."
Adversários nas presidenciais
O Presidente cessante enfrentará nas presidenciais de 24 de novembro as candidaturas de Domingos Simões Pereira, apoiado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), e de Umaro Sissoco Embaló, suportado pela segunda maior formação política do país, o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), além da candidatura independente do antigo primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.
Para o analista político Suleimane Cassamá, a probabilidade de que José Mário Vaz seja reeleito é "nula".
"Neste país, não é fácil ser eleito sem a popularidade e sem o apoio político dos partidos mais votados", diz Cassamá. "Em termos técnicos, a base mostra-nos que não vai ter sucesso e, em termos políticos, ele está ainda muito mais abaixo. Acho que nem chegará à segunda volta. Portanto, não vale a pena tanto sacrifício e tanta despesa, porque candidatos presidenciais recorrem aos partidos políticos para utilizar as estruturas organizativas desses partidos para fazer a campanha, e, sem essa estrutura montada, ninguém consegue fazer a campanha para ter sucesso."
Entretanto, olhando para as principais forças políticas da Guiné-Bissau, o Partido da Renovação Social (PRS), o terceiro partido mais votado nas últimas legislativas, ainda não se pronunciou sobre quem vai apoiar nas presidenciais de 24 de novembro.
A direção desta formação política tem em mãos uma carta do militante Tcherno Djaló, antigo ministro da Educação, que quer avançar para a corrida eleitoral. Sabe-se também que, apesar de ainda não ter feito um anúncio público, Florentino Mendes Pereira, secretário-geral do partido, também estará interessado em ser o candidato do PRS.