Jovem camaronesa pressiona Alemanha a devolver estátua
4 de julho de 2022Recentemente, a Fundação do Património Cultural Prussiano da Alemanha anunciou que Ngonnso, uma estátua roubada no Camarões no tempo colinial, tem luz verde para regressar a casa.
Sylvie Njobati não conseguiu esconder a felicidade quando recebeu a notícia, que marca o fim de uma campanha iniciada no Twitter em 2020.
"Sinto-me super eufórica, foi uma viagem que culminou numa vitória para a comunidade Nso, para os Camarões e, de um modo geral, para todo o continente africano", reagiu.
Ngonnso é uma divindade mãe do povo Nso do noroeste dos Camarões. Foi levada por Kurt von Pavel, um oficial colonial dos Camarões, que posteriormente a doou ao Museu Etnológico de Berlim, em 1903.
Em entrevista à DW, Sylvie Njobati explica o que a levou a lutar pela devolução da estátua de Ngonnso: "Tem que ver com a minha identidade, a minha cultura, a minha história."
Crise de identidade
Nesta busca pelo passado, Sylvie Njobati conta que sempre sentiu uma crise de identidade. "Lembro-me também de me perguntar a mim própria quem era? Só me reconhecia através da herança colonial, herdada dos ingleses, franceses e alemães", recorda.
Nesta viagem ao reencontro do seu passado, Njobati conheceu a história do Ngonnso, "o fundador da comunidade Nso".
Quando lhe foi contada a história antes da estátua ter sido retirada ao povo Nso, sentiu-se perturbada e comprometeu-se em lutar para a sua devolução.
"Ngonnso foi roubado do palácio, em violenta expedição, o palácio onde costumava sentar-se, foi arrasado pelos colonialistas alemães. Não pode continuar a estar afastado do seu lugar de direito", sublinha.
Aproveitar o poder das redes sociais
E assim nasceu a ideia de lançar uma campanha nas redes sociais e na comunicação social, com a hashtag: #BringBackNgonnso.
Numa primeira fase, ninguém acreditou que Sylvie Njobati venceria a batalha, mas a persistência falou mais alto. E hoje saboreia o prazer de vencer uma luta contra o passado.
"O meu propósito influencia os Camarões a conversar com a Alemanha e, por sua vez, a Alemanha conversar com a comunidade Nso. Apenas servi como intermediária para conectar a comunidade Nso e outras pessoas interessadas e garantir que teríamos um final positivo", diz.
Para já, a devolução de Ngonnso apenas está dependente de alguns detalhes que ainda estão por ser acertadas entre os governos camaronês e o alemão, mas Njobati acredita que, até dezembro, Ngonnso estará de volta a casa.
"Agora há que mobilizar as partes interessadas nos Camarões e na Alemanha, para negociarem como o processo de restituição será feito de forma justa em termos de prazos para ambas as partes", conclui.
Envolver os jovens
Enquanto isso, a jovem ativista acredita que é possível África recuperar os artefactos que foram roubados na era colonial, que hoje inundam os museus europeus. Mas para isso, é preciso o envolvimento dos jovens.
"Os jovens devem ser os principais interessados nesta conversa. A minha intenção é reunir jovens, historiadores, investigadores, numa tentativa de ter de volta o que é nosso por direito. Esta é a nossa herança. Que os artefactos nos sejam trazidos de volta", defende a jovem.
Njobati lamenta que a exposição contínua dos artefactos africanos nos museus europeus é uma desrespeitosa e uma simples demonstração de poder. "Demonstra que os colonialistas vieram, conquistaram as nações africanas, tomaram a sua herança integral, alguns com significado espiritual e estão a mantê-los cativos nos museus".
O presidente da Fundação do Património Cultural Prussiano, Hermann Parzinger, concorda que os artefactos trazidos para a Europa na era colonial deve ser devolvidos às origens. "Estamos abertos à restituição e, após a devida diligência, seremos obrigados a devolver" esses objetos", confirma.