1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Jovens não vão deixar de protestar contra regime angolano

7 de março de 2013

As manifestações iniciadas há dois anos em Angola continuarão até que o Governo seja “responsável na sua totalidade", reclamam os jovens, lembrando que as condições sociais não mudaram e o Presidente continua no poder.

https://p.dw.com/p/17tFI
Os jovens em Angola não querem desistir do direito cívico de se manifestarem
Os jovens em Angola não querem desistir do direito cívico de se manifestaremFoto: picture-alliance/dpa

Há dois anos, os jovens angolanos saíram à rua, num movimento organizado, lutando contra a direção política de Angola e do seu Presidente, José Eduardo dos Santos, que se encontra neste posto há já 33 anos.

A manifestação não decorreu de forma pacífica, mas representou um momento de viragem na luta de rua e no protesto social, que até à data praticamente não existia no país.

Em entrevista à DW África, Jang Nomada, um dos jovens organizadores destas manifestações, fala dos resultados alcançados até ao momento e do que esperam ainda conseguir.

DW África: Dois anos depois do início dos protestos, que balanço faz do movimento até agora?

Jang Nómada (JN): Naquela altura, a população não conseguia fazer crítica de forma aberta ao regime. Fazia, mas de forma fechada, sem analisar e criticar o próprio regime. Isso foi uma das vantagens que conseguimos obter. E também a participação de vários jovens no que concerne à política angolana.

DW África: Destaca algum avanço nas decisões políticas, sobretudo do ponto de vista dos jovens, desde que começaram os vossos protestos?

JN: Sim, porque hoje já existem núcleos do Governo que foram mandatados no sentido de consultarem os jovens sempre que têm alguma dúvida. Por exemplo, tivemos uma reunião com eles e pediram-nos que os ajudássemos a governar, no sentido de dar noções sobre em que é que o Governo tem falhado e como pode atuar com mais rigor nas próximas ocasiões. Por exemplo, [antes] quando saíamos, éramos vistos como quaisquer jovens. Hoje, somos vistos como ativistas cívicos.

Os jovens angolanos estão cansados de ver José Eduardo dos Santos no poder
Os jovens angolanos estão cansados de ver José Eduardo dos Santos no poderFoto: António Cascais/DW

DW África: Os jovens angolanos têm aderido a estas manifestações?

JN: Sim. Nos primeiros dias, havia aquele medo de um regime ditador, medo de sofrer outras represálias. Mas depois [o movimento] foi crescendo e as pessoas começaram a ganhar a cultura de cidadania e a ir para a rua reclamar aquilo a que têm direito. Também por parte do regime existiu, até hoje, a questão de fazer com que isto não se tornasse um ritual, para que eventualmente não sofressem mais baixas ou para que o regime não fosse desacreditado internacionalmente. Existiu aquela fase na altura das eleições durante a qual as pessoas que organizavam [os protestos] começaram a ser agredidas nas ruas. Atividades de hip-hop que nós fazíamos começaram a ser proibidas. Até hoje há proibição de eventos de hip-hop.

DW África: Os jovens querem continuar com os protestos?

JN: Enquanto o Governo não for um Governo responsável na sua totalidade, nós vamos ter sempre motivos para isso. As condições sociais hoje não mudaram na sua generalidade. E do que pedimos, até hoje, muitas coisas não foram resolvidas, como por exemplo a retirada do Presidente do poder, onde já está há mais de 33 anos, a retirada do rosto do Presidente da moeda nacional, a mudança do hino nacional, a descentralização do Governo…Várias coisas que ainda continuam no nosso calcanhar.

Mas nós temos noção de quanto a missão é dura e das forças que existem para desligar as pessoas que estão a criar este tipo de mentalidade. Há muitos interesses políticos neo-partidários no sentido de controlar esses jovens que fazem mover essa multidão ou o país desta forma. Achamos que entre nós deve existir mais formação no ramo físico e mais contacto internacional com outras pessoas para podermos, assim, ter outras ideias e outras linhas de ataque.

Autora: Francisca Bicho
Edição: Madalena Sampaio/Renate Krieger

Jovens não vão deixar de protestar contra regime angolano

Saltar a secção Mais sobre este tema