Jovens não vão deixar de protestar contra regime angolano
7 de março de 2013Há dois anos, os jovens angolanos saíram à rua, num movimento organizado, lutando contra a direção política de Angola e do seu Presidente, José Eduardo dos Santos, que se encontra neste posto há já 33 anos.
A manifestação não decorreu de forma pacífica, mas representou um momento de viragem na luta de rua e no protesto social, que até à data praticamente não existia no país.
Em entrevista à DW África, Jang Nomada, um dos jovens organizadores destas manifestações, fala dos resultados alcançados até ao momento e do que esperam ainda conseguir.
DW África: Dois anos depois do início dos protestos, que balanço faz do movimento até agora?
Jang Nómada (JN): Naquela altura, a população não conseguia fazer crítica de forma aberta ao regime. Fazia, mas de forma fechada, sem analisar e criticar o próprio regime. Isso foi uma das vantagens que conseguimos obter. E também a participação de vários jovens no que concerne à política angolana.
DW África: Destaca algum avanço nas decisões políticas, sobretudo do ponto de vista dos jovens, desde que começaram os vossos protestos?
JN: Sim, porque hoje já existem núcleos do Governo que foram mandatados no sentido de consultarem os jovens sempre que têm alguma dúvida. Por exemplo, tivemos uma reunião com eles e pediram-nos que os ajudássemos a governar, no sentido de dar noções sobre em que é que o Governo tem falhado e como pode atuar com mais rigor nas próximas ocasiões. Por exemplo, [antes] quando saíamos, éramos vistos como quaisquer jovens. Hoje, somos vistos como ativistas cívicos.
DW África: Os jovens angolanos têm aderido a estas manifestações?
JN: Sim. Nos primeiros dias, havia aquele medo de um regime ditador, medo de sofrer outras represálias. Mas depois [o movimento] foi crescendo e as pessoas começaram a ganhar a cultura de cidadania e a ir para a rua reclamar aquilo a que têm direito. Também por parte do regime existiu, até hoje, a questão de fazer com que isto não se tornasse um ritual, para que eventualmente não sofressem mais baixas ou para que o regime não fosse desacreditado internacionalmente. Existiu aquela fase na altura das eleições durante a qual as pessoas que organizavam [os protestos] começaram a ser agredidas nas ruas. Atividades de hip-hop que nós fazíamos começaram a ser proibidas. Até hoje há proibição de eventos de hip-hop.
DW África: Os jovens querem continuar com os protestos?
JN: Enquanto o Governo não for um Governo responsável na sua totalidade, nós vamos ter sempre motivos para isso. As condições sociais hoje não mudaram na sua generalidade. E do que pedimos, até hoje, muitas coisas não foram resolvidas, como por exemplo a retirada do Presidente do poder, onde já está há mais de 33 anos, a retirada do rosto do Presidente da moeda nacional, a mudança do hino nacional, a descentralização do Governo…Várias coisas que ainda continuam no nosso calcanhar.
Mas nós temos noção de quanto a missão é dura e das forças que existem para desligar as pessoas que estão a criar este tipo de mentalidade. Há muitos interesses políticos neo-partidários no sentido de controlar esses jovens que fazem mover essa multidão ou o país desta forma. Achamos que entre nós deve existir mais formação no ramo físico e mais contacto internacional com outras pessoas para podermos, assim, ter outras ideias e outras linhas de ataque.
Autora: Francisca Bicho
Edição: Madalena Sampaio/Renate Krieger