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Junta militar anuncia fim das hostilidades em Moçambique

Arcénio Sebastião (Beira)
23 de dezembro de 2020

Líder da auto-proclamada Junta Militar da RENAMO, Mariano Nhongo, suspendeu as hostilidades no centro de Moçambique. Mas as autoridades continuam no seu encalço, mesmo depois de iniciar conversações com enviado da ONU.

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Mosambik RENAMO-Militärjunta in Gorongosa | Mariano Nhongo
Mariano Nhongo, líder da Junta Militar, dissidente da RENAMOFoto: DW/A. Sebastião

Numa conversa telefónica com a DW África a partir do seu esconderijo, o líder da Junta Militar e dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Mariano Nhongo, garantiu que os seus homens já silenciaram as armas no centro do país:

"Sou presidente da Junta Militar e já paralisei os meus homens para não fazerem mais nenhuma ação", começou por dizer. "Estou a apelar a todo o povo moçambicano e também ao Governo para que não pensem que com a força das armas vão fazer Moçambique ter paz", asseverou.

"Não quero mais matar moçambicanos... Não quero mais ser um moçambicano a morrer com uma arma, por isso é que estou a apelar ao Governo a terminar com a guerra e a entrarmos nas negociações para o povo moçambicano andar livre", acrescentou.

Mosambik Mirko Manzoni, UN-Gesandter
Mirko Manzoni esteve à conversa com Mariano Nhongo, segundo o enviado especial da ONUFoto: Romeu da Silva/DW

A posição de Mariano Nhongo é expressa dias depois de uma conversa com Mirko Manzoni, representante pessoal do secretário-geral da ONU em Moçambique, no domingo (20.12).

Os partidos políticos moçambicanos já se tinham manifestado sobre a abertura de Nhongo para negociar, frisando que o diálogo é a melhor solução para a paz.

Mudança de ideias

Mariano Nhongo, que até há pouco tempo se recusava a negociar com o Governo, mudou de ideias e já escolheu cinco homens da Junta Militar que se sentarão à mesa de negociações com o Executivo de Maputo.

O dissidente da RENAMO acredita que um diálogo pode efetivar-se já na próxima semana, daí a cessação da violência.

"Já organizei a minha comissão, cinco homens estão preparados, só o que falta é ouvir o Governo e a embaixada", disse ainda.

"Para mim já terminei com a guerra. Vou enviar os meus homens a partir de segunda, terça e quarta-feira... Nestes três dias, caso o Governo me dê garantias, caso a embaixada me dê o endereço onde eles vão chegar [para as negociações], estou pronto para enviar esses homens", sublinhou.

Mosambik Angriff Unbekannter in Mecombezi
Vestígios de ataque armado supostamente perpetrado pela Junta Militar em NhamatandaFoto: DW/A. Sebastião

Junta Militar alvo de ameaças e perseguição

Justamente pela sua abertura ao diálogo, Mariano Nhongo diz, no entanto, não entender a razão das perseguições contra a Junta Militar, nem das ameaças e raptos dos seus simpatizantes. 

"Hoje estão a ligar-me ali de Boza, em Nhamatanda, a falar-me que o avião está a rodear à procura da Junta Militar, quando eu acabei de conversar com Mirko Manzoni", lamenta.

A Junta Militar da RENAMO é acusada de protagonizar ataques armados contra civis e forças governamentais em estradas e povoações das províncias de Sofala e Manica, centro de Moçambique, incursões que já provocaram a morte de, pelo menos, 30 pessoas desde agosto de 2019.

O grupo de Nhongo exige melhores condições de reintegração, a renegociação do acordo de paz de 2019, entre o Governo e a RENAMO, e a demissão do atual líder partido, Ossufo Momade, acusando-o de ter desviado o processo negocial dos ideais do seu antecessor, Afonso Dhlakama, líder histórico que morreu em maio de 2018.

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