Juntos contra o aquecimento global em África
30 de maio de 2012Os prognósticos científicos atuais dizem que os efeitos das mudanças climáticas serão particularmente negativos nestes países da África Austral. Porém, em vez de agirem em conjunto, estes Estados costumam brigar entre si por recursos de água e territórios. Um novo projeto de pesquisas germano-africano pretende fomentar ações conjuntas na região. A iniciativa foi apresentada durante a conferência Africa Business Week, que decorreu recentemente em Frankfurt com o patrocínio da DW.
Por três vezes, nos últimos três anos, o presidente da Namíbia, Hifikepunye Lucas Pohamba, teve que decretar o estado de emergência no país. E não foi, como seria de esperar deste pais na África Austral, por causa das secas. A causa dos alertas foi as inundações que assolaram a Namíbia. Há um ano, 38 000 pessoas ficaram desabrigadas por causa das inundações.
Uma ameaça paira sobre a África Austral
Neville M. Gertze, embaixador da Namíbia na Alemanha, disse que as enchentes se tornaram parte do cotidiano no país africano. O diplomata referiu-se a um estudo de 1998 do Comité Nacional do Clima da Namíbia, que prevê que os efeitos das mudanças climáticas serão responsáveis por um aumento de dois graus Célsius na temperatura até 2050. O processo seria acompanhado pela escassez de água em certas regiões, e por fortes chuvas e catástrofes de inundações em outras. Mas, diz Gertze: “O problema é que já estamos a viver essa realidade agora!"
Se as projeções dos pesquisadores forem corretas, diversos países da África Austral serão duramente afetados pelos efeitos das mudanças climáticas, que poderiam fazer com que a temperatura média na região aumente até sete graus Célsius até o fim deste século.
A procura por soluções regionais
Por sua vez, a previsão do crescimento demográfico aponta para mais do dobro de pessoas vivendo na região até ao fim do século. Assim for, as inundações e secas não serão as únicas ameaças. Poderão também estalar conflitos em torno da posse de matérias-primas escassas, do uso da terra para produzir alimentos e biocombustíveis, e outros mais.
Tais problemas globais precisam encontrar rapidamente soluções regionais coordenadas, dizem as autoridades envolvidas. Por isso, iniciativas como a teuto-africana SASSCAL, da sigla em inglês para Centro de Serviço Científico para as Mudanças Climáticas e Gestão Agrária Adaptada da África Austral, deverão impulsionar a transferência de conhecimento sobre mudanças climáticas na África Austral.
Projeto será alargado à África ocidental
O Centro está sendo estruturado na capital namibiana Windhoek por especialistas da Alemanha com seus países parceiros na África: Namíbia, Angola, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Um outro centro de competências deverá ser construído na África ocidental – com os países parceiros Benin, Burkina Faso, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Mali, Níger, Nigéria, Senegal e Togo.
Nas duas sedes serão recolhidos dados sobre as consequências regionais das alterações climáticas. De acordo com o governo alemão, será uma oportunidade para que a pesquisa sobre o tema se desenvolva localmente, sem que cientistas africanos tenham de sair dos países de origem para estudar os efeitos do aquecimento global na região.
Cada centro de competências deverá permitir que cerca de 100 cientistas africanos comecem uma formação académica por ano – como estudante, doutorando, pesquisador assistente ou técnico. Para Annette Schavan, ministra alemã da Pesquisa e da Educação, o objetivo é a formação específica e a implementação de estruturas especialmente dedicadas à região: "É decisivo sabermos como vamos transformar as descobertas, o conhecimento, as competências que existem, em aconselhamento para a política e na prestação de serviços para o desenvolvimento regional".
Autores: Richard Fuchs/Renate Krieger
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha