"Já não precisamos da guerra"
8 de fevereiro de 2016A psicologia pode ajudar a orientar os políticos e a sociedade em geral a resolver a crise político-militar em Moçambique, afirmou, na sexta-feira (05.02), a psicóloga Alexandra Melo durante uma conferência em Maputo subordinada ao tema "Psicologia da Paz".
Há meses que Moçambique vive momentos de instabilidade política. O líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, ameaça, a partir de março, governar em seis províncias do centro e norte do país, onde a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) reivindica ter vencido nas eleições gerais de 2014.
Tem havido confrontos constantes entre as forças governamentais e homens armados da RENAMO. Por isso, é urgente avançar com propostas para resolver um conflito que, segundo Alexandra Melo, "é natural, mas que não queremos que desencadeie violência."
"Falta de aceitação"
"Qual é o problema? O que reparamos é que há falta de aceitação", afirma o psicólogo Hermenegildo Correia.
A crise político-militar "é um jogo" entre o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a RENAMO. Mas esse jogo tem de terminar para se "criar um país melhor", conclui.
A chave para a tensão político-militar está nas mãos do Governo moçambicanos, segundo Correia. "Eu acho e tenho fé que temos um partido FRELIMO bastante maduro e com dirigentes competentíssimos. E sabem como terminar esta instabilidade."
Já o psicólogo Leonardo Ediesse considera que, para resolver a tensão é necessário ter em conta um outro fator - interesses económicos de terceiros devido à abundância dos recursos naturais.
"Muitos dos recursos que temos não somos nós, moçambicanos, que consumimos. Será que esses outros podem intervir na eclosão dos próprios conflitos? É uma questão aberta em que todos nós devíamos pensar."
Os "estrangeiros" lucrariam, pois, com a instabilidade no país ao invés de lucrar com a estabilidade?, questiona Ediesse.
Auto-estima
Por outro lado, psicólogos entendem que muitos políticos moçambicanos continuam a não prestar atenção aos traumas que a guerra civil, entre 1976 e 1992, causou em vários grupos sociais, sobretudo em crianças.
"Há necessidade de os psicólogos tentarem trabalhar com as pessoas, para as ensinar que já não precisamos da guerra", afirma o psicólogo Nataniel Moela.
Seria necessário, principalmente, superar problemas de auto-estima no seio da população. Segundo este psicólogo, a razão principal da origem dos confrontos militares tem sido a inferiorização das pessoas. "Quando a pessoa perde a sua auto-estima, fica violenta. E o que se espera de uma pessoa violenta são percursos incalculáveis, decisões impensáveis", diz.
Porém, a tarefa dos psicólogos não é fácil, pois as pessoas que sofrem com os traumas estão em zonas de conflito. "Entrar no campo de trabalho" é difícil.