Kano, no norte da Nigéria, retoma cotidiano sob tensão
22 de junho de 2012A cidade de Kano, no norte da Nigéria, é uma antiga metrópole muçulmana. Mas, desde os tempos coloniais, atrai centenas de milhares de migrantes do sul da Nigéria, dominado por cristãos.
Muitos desses migrantes vivem no bairro de "Sabon Gari", a chamada "Cidade Nova". Durante o dia, a vida parece normal. Existem poucos postos de controle, e o comércio permanece aberto. Mas, à noite, as ruas se esvaziam rápido, enquanto militares e polícia instalam controles em todo lugar.
Além do grupo étnico Igbo, em sua maioria composto por cristãos, muitos membros da etnia Yoruba, do sudoeste da Nigéria, vivem em Sabon Gari. Os Yoruba são frequentemente muçulmanos.
Um deles, o estudante Sadiq, conta que recebe olhares desconfiados dos seus vizinhos cristãos – provavelmente por ser muçulmano. "Os muçulmanos têm a culpa de toda essa situação. Eles não entendem que são os terroristas que querem estragar a religião", pondera o estudante.
Economia ameaçada
Pascal Nwosu, diretor da comunidade da etnia Igbo em Kano, diz que muitos deixaram a cidade depois dos ataques de janeiro deste ano, que teriam deixado muitos cristãos com medo dos muçulmanos.
Alguns cidadãos voltaram, mas a comunidade da etnia Igbo – a maior comunidade não nativa de Kano – diminuiu consideravelmente, disse Nwosu à DW África. O empresário teme especialmente uma sangria econômica.
Segundo Nwosu, as empresas encontram dificuldades para substituir os cidadãos que deixaram os seus locais de trabalho. "A minha própria empresa perdeu funcionários. Ninguém pode obrigá-los a ficar", revela. O empresário acrescenta que "se acontecer alguma coisa, eles (os funcionários) vão dar a culpa aos empregadores".
O próprio Nwosu não vê motivo para partir. Ele diz que nem todos os muçulmanos da Nigéria estão contra os cristãos no norte do país. Quem realiza os ataques é um grupo pequeno que quer levar caos à Nigéria.
Retomada do diálogo
Outros cristãos ouvidos pela DW África dizem que, basicamente, o relacionamento entre cristãos e muçulmanos melhorou nos últimos anos e que não há mais tanta violência entre os grupos religiosos, que têm até intensificado o diálogo no âmbito dos ataques mais recentes.
Mohammed Aminu Daurawa, clérigo muçulmano, é comandante supremo da polícia religiosa Hisbah. De acordo com Daurawa, o diálogo entre cristãos e muçulmanos é feito por meior de seus representantes.
"Junto ao governador, existe um conselheiro para grupos étnicos e um para questões religiosas. Esses responsáveis começaram a organizar o diálogo entre os grupos", revela.
Um exemplo para a nova cooperação seriam os protestos contra os aumentos dos preços dos combustíveis na Nigéria. Também aos domingos, a Hisbah estaria vigiando igrejas durante as missas para proteger os cristãos.
Poucos dos entrevistados ouvidos pela DW África acham que os cristãos deveriam retaliar os ataques do Boko Haram. Porém, a tensão continua crescente.
Depois de ataques a igrejas no estado vizinho de Kaduna, no último fim de semana, o grupo terrorista Boko Haram divulgou uma nota alertando os habitantes de Kano sobre novos ataques, caso os cidadãos continuem trabalhando com as autoridades de segurança contra os terroristas.
Autores: Thomas Mösch/Renate Krieger
Edição: Cristiane Vieira Teixeira/António Rocha