Karyna Gomes apela ao protesto da população na Guiné-Bissau
30 de maio de 2016Da Guiné-Bissau para Würzburg, na Alemanha: a cantora e compositora Karyna Gomes foi este fim-de-semana a primeira artista guineense a pisar o palco do Afrika Festival.
Ao lado de vários cantores e grupos africanos, como a cabo-verdiana Lura, Karyna Gomes aproveitou a presença no mais antigo festival de música africana da Europa para apelar, em palco, à estabilidade e à paz na Guiné-Bissau.
O país atravessa há vários meses uma grave crise política. Na quinta-feira (26.05), o Presidente guineense, José Mário Vaz, nomeou Baciro Djá, deputado dissidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), como primeiro-ministro - uma situação que o partido não admite.
À decisão seguiram-se vários protestos. Os membros do Governo demitido pelo chefe de Estado ocupam o palácio do Executivo desde a noite de quinta-feira (26.05), em protesto contra a nomeação, que consideram inconstitucional.
Saída da crise política passa pelo protesto dos guineenses
Em entrevista à DW África, a cantora Karyna Gomes afirma que "a solução é o povo sair à rua e reclamar o que lhe é de direito". A cantora considera que "o povo da Guiné-Bissau tem dado mostras de maturidade política nas urnas", no entanto lamenta que o povo vote, mas que por fim "apareça sempre alguém como um político de má fé que aborta o plano e a escolha do povo guineense".
Karyna Gomes diz que o que se passa na Guiné-Bissau é "inaceitável" e reforça que a soluçaõ passa mesmo pelo povo "exigir das instituições e das pessoas que elege, mais respeito para com o seu voto".
Esta segunda-feira (30.05), uma missão do comité interparlamentar para a paz e prevenção de crises na África Ocidental está em Bissau para tentar mediar o impasse no país. A missão tem encontros marcados com a direção da Assembleia Nacional Popular, os partidos políticos e o Presidente guineense, José Mário Vaz, para tentar ajudar na busca do entendimento.
Artistas têm papel a cumprir na luta pela paz
Para Karyna Gomes, também os artistas guineenses têm um papel a cumprir na luta pelos direitos da população da Guiné-Bissau. "Eu tenho feito um pouco e creio que se todos os músicos, meus colegas, fizerem um pouco", declara a artista.
"As nossas vozes serão muito num país que precisa de tantos interlocutores, de pessoas como eu e dos meus colegas da música, para dar voz à população que não tem voz. Está na hora de nos erguermos para pôr cobro aos nossos políticos e defender a nossa população. O povo da Guiné é um povo fantástico que não merece estar na situação em que está", assegura a cantora.
Uma situação de crise que, para já, não parece ter uma solução à vista. E este fim-de-semana, Karyna Gomes e outros músicos do continente aproveitaram o Afrika Festival, na Alemanha, para apelar à responsabilidade dos políticos africanos.
Em palco, a cantora que funde a música tradicional e moderna da Guiné-Bissau, evocou as lutas pela independência do país e pela emancipação da mulher guineense. Influenciada pelo jazz, o soul e a música latina, Karyna Gomes não esconde a satisfação e a "grande alegria" de participar no Afrika Festival, um evento pioneiro na Europa.
"É um prazer partilhar um pouco da música do meu país que eu faço e poder abrir caminho para futuramente outros músicos da Guiné-Bissau também poderem participar", conclui.