Kwame Nkrumah lutou por uma África livre e unida
10 de janeiro de 2018Nascimento: 21 de setembro de 1909 em Nkroful, Gana. Morreu a 27 de abril de 1972, em Bucareste, Roménia.
Reconhecimento: Ficou famoso pela luta pan-africanista, tendo levado o Gana à independência, em 1957. Foi o primeiro a ocupar o cargo de primeiro-ministro e Presidente. É substituído em 1966 depois de um golpe de Estad). Foi um dos pais da Organização da Unidade Africana (atual União Africana).
Críticas: Chamaram-lhe marxista por simpatizar com o pensamento socialista. Uma visão que lhe trouxe inimigos dentro e fora do país. Alguns acreditam que os serviços secretos dos EUA foram responsáveis pela sua queda.
Inspiração: Nkrumah inspirou-se na luta de libertação afro-americana. Conheceu Martin Luther King enquanto estava nos EUA e leu W.E.B. Dubois, sociólogo pan-africanista e ativista de direitos humanos com quem trocaria ideias. Enquanto estudava na Grã-Bretanha, Nkrumah cruzou-se com muitos outros africanos que lutaram pela independência, como Jomo Kenyatta, Haile Selassie, Julius Nyerere e Rupiah Banda.
Frases famosas:
"Não enfrentamos nem o Oriente nem o Ocidente: enfrentamos o futuro."
"As revoluções são provocadas pelos homens, por homens que pensam como homens de ação e agem como homens de pensamento."
"A liberdade não é algo que um povo pode dar a outro de presente. Reivindicam-na como sua e ninguém lha pode tirar."
Polémica: Em 2012, foi apresentada uma estátua de Nkrumah na sede da União Africana, em Addis Abeba. Mas porquê Nkrumah? Na Etiópia, muitos acharam que devia ter sido o ex-imperador Haile Selassie a ser distinguido por ser considerado o fundador da União Africana. No entanto, o primeiro-ministro etíope Meles Zenawi optou por Kwame Nkrumah.
Kwame Nkrumah nasceu na colónia britânica então conhecida como Costa do Ouro. Em 1930, embarcou num navio rumo aos Estados Unidos para estudar. Mais tarde, mudou-se para a Grã-Bretanha onde estudou Direito.
Nkrumah esteve fora do Gana 12 anos e nesse período foi-se tornando cada vez mais ativo em organizações políticas africanas no exterior. Em 1947, decidiu voltar ao seu país e insurgir-se contra o domínio colonial. Foi aqui que fundou o Partido da Convenção do Povo (CPP), que tinha como slogan "Independência já!". Uma década depois, em 1957, Nkrumah tornou-se o primeiro primeiro-ministro do Gana independente. Na altura, os seus apoiantes aclamaram-no em massa. Em 1960, Nkrumah tornou-se o primeiro Presidente do Gana.
"Único e especial”
"Nkrumah foi especial e único no sentido em que não pensou apenas no Gana", considera Wilhelmina Donkor, professora de História da Universidade Kwame Nkrumah. Sonhava com os "Estados Unidos de África". Uma visão que, lembra Wilhelmina Donkor, "atravessou o continente". "Foi por isso que na altura da independência, em 1957, ele fez essa famosa afirmação de que a independência de Gana só estaria completa quando estivesse ligada à libertação total de todo o continente", lembra a professora.
Foi esta visão pan-africana que fez de Nkrumah uma figura venerada além-fronteiras. No entanto, alguns acreditam que isso fez também com que Nkrumah ignorasse os problemas no seu próprio país. No início, as suas tentativas de construir uma indústria no Gana foram promissoras. Mas após o golpe de Estado que derrubou Nkrumah em 1966, o país herdou uma economia paralisada e investimentos avultados em fábricas que não produziam. Nesta altura, os ganeses comemoraram a saída do poder de Nkrumah.
No entanto, Mike Ocquaye, historiador e político ganês, chama a atenção para a era pré-Nkrumah. "Antes da saída de Nkrumah, faziam-se filas no estádio para se conseguir uma ração de açúcar. É verdade que as fábricas não funcionavam porque começámos a correr antes de podermos caminhar. Mas é importante que o povo não fale apenas sobre a visão [pan-africana]", defende.
Além do colonialismo, Kwame Nkrumah também lutou contra o capitalismo. Era um acérrimo defensor de um "socialismo africano" que pudesse unir a justiça social e as tradições africanas. Mas colocar a teoria em prática revelou-se uma tarefa difícil. A abordagem política de Nkrumah no próprio país era muitas vezes contraditória com o socialismo sobre o qual escreveu. Uma realidade que, segundo Wilhelmina Donkor, continua a ser um interessante tema de estudo, mesmo meio século depois. "Nkrumah era um líder muito interessante porque, por um lado, parecia ter muita retórica sobre o socialismo, mas, na realidade, nem todas as suas políticas eram necessariamente de orientação socialista", lembra a professora.
Fora do Gana, Nkrumah é lembrado sobretudo por defender vigorosamente a ideia de uma união política africana. Uma ideia que se tornou, em parte, realidade com a criação, em 1999, da União Africana, que reconhece Nkrumah como um dos seus fundadores.
O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.