Kwanza-Sul: Sacerdote denuncia mortes de parturientes
22 de julho de 2021As preocupações com a situação das parturientes foram manifestadas pelo superior da Missão de Santo António de Pádua do Mussende, na província angolana do Kwanza-Sul. O padre Moisés Luís Vicente considera que o problema de saúde em Angola está em quem toma as decisões.
"[Para] nós aqui, o problema não é de fazer, é problema de decisão. Quem é que não sabe que uma mamã em atividade de parto [não está em condições de] sair daqui [e viajar] até ao Sumbe, que fica a 300 quilómetros? Já iniciou atividade de parto e tem que fazer 300 quilómetros para ir superar? Quem não sabe disto? É preciso a população falar? Estamos a governar, estamos a fazer o que?", critica.
O sacerdote revela que, no Mussende, quase todas as semanas morre uma mulher em resultado de partos complicados e por falta de assistência médica especializada.
"Temos nenhum médico. Aqui, morre todas as semanas uma senhora por questões de parto. Quase todos os dias, se transfere uma mamã da maternidade para o Sumbe, por causa de um aparelho de ecografia para saber em que posição o bebé está, para saber se pode sofrer uma intervenção cirúrgica ou não. Isso poderia ser feito com toda a antecedência", relata.
"O Mussende não está atrasado por questões de dinheiro. Só acho que quem decide não olha por nós", considera o padre Moisés Luís Vicente.
Sem ambulância
Por falta de ambulância, muitas vezes o único carro da missão religiosa serve de ambulância para evacuação de mulheres grávidas para o Sumbe.
"A estrada chegou ontem, depois de quase 20 anos de paz, e o hospital vai chegar daqui a 40 anos de paz. A escola, daqui a 50 anos de paz. Penso que não é necessário tanto tempo assim", avalia o sacerdote.
"As coisas que se pensam em Luanda aqui não funcionam. O nosso carro da missão tem os assentos partidos porque, numa única vez, levamos duas a três parturientes - e no meu carro levamos mais três parturientes. A carga disso já podem imaginar," relata.
A gestante Joaquina Domingos, confirma a falta de médico e até de aparelho de ecografia, no centro materno-infantil e pede socorro ao Governo.
"Aqui não tem médico que opera e nem para acompanhar as nossas consultas. Ninguém tem aquele aparelho para ver se o nosso bebé está bem. Precisamos de ajuda", apela.
"Aqui, só temos uma ambulância. Se a mesma estiver avariada, temos de recorrer ao padre Moisés para nos levar até ao Sumbe para sobrevivermos. A cada semana, morre uma grávida e está a ficar preocupante", confirma Joaquina Domingos.
"Não é normal"
O diretor do Gabinete Jurídico da Administração Municipal do Mussende, Arnaldo Valentim, reconhece as dificuldades e garante que mesmo em tempos de crise a Administração tem estado a fazer alguma coisa em benefício das parturientes.
"Relativamente aos partos difíceis, mesmo na crise e com muita dificuldade, a Administração Municipal deu início à construção de um bloco operatório para mitigar [o problema]. Não é normal num parto percorrer 300 quilómetros de estrada para encontrar soluções", reconheceu Valentim.
"Dificuldades são várias, mas os recursos são escassos. O projeto de construção do bloco operatório está a 45% e foi concebido no âmbito do programa de combate a pobreza. Esperamos que, tão logo haja disponibilidade financeira, passemos para outra fase do mesmo projeto", justificou.