PODEMOS quer que autores da "fraude" sejam responsabilizados
3 de dezembro de 2024"Pagamos muito dinheiro àqueles que estão nas instituições que devem zelar por este processo. Há crianças que não têm comida porque pagamos dinheiro por estas eleições, se é para anulá-las, então temos de responsabilizar seriamente as pessoas que cometeram isso. Fora disso estaremos a cometer fraude para nós próprios", afirmou o presidente do Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS).
Albino Forquilha assumiu a posição ao intervir, em Maputo, numa mesa-redonda para discutir os caminhos para a "promoção da paz no contexto da tensão pós-eleitoral", promovido pela organização não-governamental Sala da Paz, na sequência das eleições gerais de 9 de outubro, cujos resultados anunciados desencadearam protestos generalizados durante mais de 40 dias.
Segundo os resultados das eleições gerais de 9 de outubro, anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional (CC), o PODEMOS, partido até agora extraparlamentar e que ganhou projeção ao apoiar a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, passará a ser o maior partido da oposição, com 31 deputados em 250 mandatos.
Contudo, toda a oposição não reconhece os resultados da CNE, que deram a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder desde 1975) - 195 deputados e a eleição de Daniel Chapo a Presidente da República -, e exigem recontagem dos votos e até a anulação da votação, alegando "fraude eleitoral".
"Temos que saber quem efetivamente planifica, organiza, operacionaliza a fraude eleitoral. Se nós não conhecermos bem este, então vamos pegar um outro qualquer para resolver um problema que ele não sabe. Temos a FRELIMO, temos instituições partidarizadas que estão lá não para cumprir a nossa Constituição e demais leis, mas para cumprir o comando do partido", acusou, garantindo: "O CC vai ser obrigado a trazer a justiça eleitoral".
"Justiça eleitoral" deve ser prioridade
Sobre o CC, que já admitiu a proclamação dos resultados das eleições gerais por volta de 23 de dezembro, Forquilha diz que deve "chamar" à análise do processo quem "estava no terreno", como representantes dos partidos políticos concorrentes, observadores e jornalistas, verificando atas e editais em conjunto.
O presidente do PODEMOS diz que a prioridade deve ser a "justiça eleitoral": "O problema fundamental é mesmo a sonegação da democracia. O problema fundamental é a fraude eleitoral que aconteceu".
"É por isso que o nosso partido procurou evidências, e levar evidências, cerca de 500 tipos de evidências. São evidências produzidas por instituições credíveis do nosso país. Nós queremos que essa verdade eleitoral se faça com uma confrontação clara dessas evidências com aquelas evidências que fizeram com os números que foram divulgados pela CNE", apontou, recusando como primeira solução anular as eleições.
O dirigente defendeu que só em caso de "impasse" se deve procurar "outras soluções", como através de "diálogo". "Se chegarmos a um ponto que, por elementos claros, devidamente apresentados de forma transparente, há impasse e não conseguimos a verdade eleitoral", justificou, reclamando que esses "mecanismos de diálogo" devem obedecer a "princípios claros" previamente definidos.
Pelo menos 76 pessoas morreram e outras 240 ficaram feridas por baleamento em Moçambique em 41 dias de contestação dos resultados eleitorais, essencialmente convocadas pelo candidato Venâncio Mondlane, segundo a organização não-governamental moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou a uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, a partir de quarta-feira (04.12), em "todos os bairros" de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel.