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DesportoCatar

Goretzka critica homofobia no Mundial: "É de outro milénio"

Kyle McKinnon | Kalika Mehta
9 de novembro de 2022

Médio do Bayern de Munique critica comentários homofóbicos feitos pelo embaixador do Catar no Campeonato do Mundo de Futebol. Diretor desportivo do Bayern, Hasan Salihamidžić, também se pronuncia.

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Leon Goretzka, médio do Bayern de Munique
Leon Goretzka, médio do Bayern de MuniqueFoto: Frank Hoermann/SVEN SIMON/IMAGO

O médio do Bayern de Munique Leon Goretzka criticou os comentários homofóbicos do embaixador do Catar no Campeonato do Mundo de Futebol de 2022, dizendo que eram "opressivos" e [provenientes] "de um milénio diferente".

Khalid Salman, um ex-futebolista internacional do Catar, disse num documentário transmitido pela emissora pública alemã ZDF na terça-feira (08.11) que tem um problema com crianças que veem homens e mulheres homossexuais porque poderiam aprender algo que não deveriam. Salman afirmou que a homossexualidade é um "dano mental" e um "dano espiritual".

Falando após a vitória por 6-1 do Bayern sobre o Werder Bremen na terça-feira à noite, o médio Leon Goretzka disse: "Não é isso o que queremos defender e o que exemplificamos. É absolutamente inaceitável fazer tal afirmação".

O jogador de 27 anos destacou-se muitas vezes como um dos jogadores mais francos e socialmente conscientes da primeira liga alemã, a Bundesliga. Durante a pandemia, lançou a campanha "We Kick Corona" ("Nós Chutamos o Corona", na tradução literal para o português) com o seu colega de equipa Joshua Kimmich.

Falando no mesmo documentário da ZDF, Goretzka disse que "preferiria competir num Mundial no auge da carreira num país diferente".

"O facto de a situação dos direitos humanos num país não fazer parte dos critérios de licitação foi um grande erro, isso deixa-nos furiosos", acrescentou.

O diretor desportivo do Bayern, Hasan Salihamidžić, também manifestou o seu descontentamento com os comentários de Salman, mas recusou-se a entrar no debate sobre as longas ligações de patrocínio do clube com a companhia aérea do país anfitrião do Mundial, a Catar Airways.

"É uma declaração de um indivíduo", afirmou Salihamidžić. "É evidente que temos de falar sobre isso. Mas antes de mais, é um indivíduo e é inaceitável".

Os apoiantes mais críticos do Bayern, que há muito questionam as relações comerciais do clube com o Catar, ergueram cartazes protestando novamente contra os comentários de Salman durante a vitória de terça-feira.

Adeptos do Bayern de Munique protestam contra Mundial no Catar
Adeptos do Bayern protestam contra realização do Mundial no Catar: "15.000 mortos por 5.760 minutos de futebol! Envergonhem-se!", lê-se na faixaFoto: Jan Huebner/IMAGO

Embaixador do Catar no Mundial: homossexualidade é "pecado"

Os comentários de Salman foram feitos poucos dias depois de o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Catar ter insistido que todas as pessoas seriam bem-vindas ao Campeonato do Mundo no seu país, incluindo os membros da comunidade LGBTQ+.

Mas ao rotular a homossexualidade como "haram" - que significa "proibido" no emirado maioritariamente muçulmano - o embaixador oficial do Mundial defendeu uma posição claramente diferente.

"Não sou um muçulmano rigoroso", disse ele. "Mas é um dano mental".

O oficial de imprensa do comité organizador do Mundial do Catar, que acompanhou a equipa da ZDF durante as gravações, pôs fim à entrevista logo após Salman se ter referido à homossexualidade como "dano mental".

Num outro excerto, Salman disse: "Durante o Campeonato do Mundo, muitas coisas virão ao país. Falemos de homossexuais, por exemplo. O mais importante é que todos aceitarão que venham para cá. Mas eles terão de aceitar as nossas regras".

Jochen Breyer e Khalid Salman
Embaixador do Catar no Campeonato do Mundo, Khalid Salman (à dir.), conversa com o jornalista desportivo alemão Jochen Breyer (à esq.) num documentário da emissora alemã ZDFFoto: Mateusz Smolka/ZDF

Disputa diplomática

Atos homossexuais em público são proibidos no Catar e podem ser punidos com uma pena de até sete anos de prisão. Os capitães de vários países europeus que competem no Campeonato do Mundo, incluindo a Alemanha, França e Inglaterra, planeiam usar braçadeiras com as cores do arco-íris durante os seus jogos, como parte de uma campanha antidiscriminação.

O Catar também tem sido alvo de críticas pelo seu histórico de violações dos direitos humanos e pelo tratamento dado aos trabalhadores estrangeiros. Durante o fim-de-semana, adeptos em estádios de toda a Alemanha acenaram com bandeiras apelando ao boicote do evento, incluindo a exibição televisiva.

A ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, disse ter recebido uma "garantia de segurança" para os adeptos LGBTQ+ por parte do primeiro-ministro do Catar. Faeser tinha dito anteriormente que a realização do Campeonato do Mundo no Catar era "muito complicada" na perspetiva de Berlim, o que levou Doha a convocar o embaixador alemão sob acusações de "dois pesos e duas medidas" e "racismo".

A FIFA, que atribui o Campeonato do Mundo de Futebol a diferentes países de quatro em quatro anos, salientou que todos os adeptos são bem-vindos ao Mundial no Qatar, tal como o comité de organização do país. Entretanto, o emir do estado do Golfo, Tamim bin Hamad al Thani, afirmou recentemente que espera respeito pela "cultura" local.

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