Lisboa sai à rua pela libertação de ativistas angolanos
14 de abril de 2016O protesto saiu às ruas de Lisboa, entre o Largo Jean Monet, onde fica a representação do Parlamento Europeu, e a Praça do Rossio, que se tornou no lugar habitual para manifestações de solidariedade a favor dos jovens ativistas angolanos, condenados a 28 de março pelo Tribunal de Luanda.
A manifestação desta quarta-feira (13.04) coincidiu com o 35º dia da greve de fome de Nuno Dala, que protesta desta forma pelo facto de não lhe terem sido devolvidos os seus exames de saúde e cartões multibanco, confiscados aquando da sua apreensão no dia 20 de junho de 2015.
Em greve de fome desde 10 de março passado, o ativista foi, entretanto, transferido para a clínica Girassol. Condenado a quatro anos e seis meses de prisão, Dala é um dos 17 presos políticos acusados por "crimes de atos preparatórios de rebelião e de associação de malfeitores".
Entre os manifestantes, não havia certezas se Nuno Dala teria, de facto, posto fim à greve de fome. "Uma informação que tenho de familiares e de pessoas que estão à espera da confirmação junto ao hospital é que a greve de fome não parou. Essa informação é para já não confirmada", disse Pedro Coquenão, um dos amigos do luso-angolano Luaty Beirão, um dos que faz parte do grupo dos 17. "A razão de estarmos aqui é maior. Estamos a falar do valor da liberdade", sublinhou.
Já a situação de Luaty Beirão, segundo a irmã Serena Mancini, tem sido acompanhada em Luanda pela mulher, Mónica Almeida, que o visita sempre que possível. "Em relação às condições na cadeia, não fez grandes reclamações porque não é uma pessoa de reclamar cá para fora, talvez para nos manter um bocado mais tranquilos. Mas, de espírito, ele está bem", contou à DW África.
"Deixem de declarações tímidas"
Frente ao edifício no Largo Jean Monet, vários cidadãos pronunciaram-se sobre a situação dos direitos humanos em Angola. Enquanto se espera por uma resposta célere ao recurso interposto pela defesa dos ativistas no Tribunal Supremo, exortam as instituições europeias a assumirem uma posição mais forte quando se trata de violações em Angola.
"Queremos que as instituições europeias deixem de observações ou declarações tímidas em relação ao processo dos presos políticos em Angola", sublinha Joseph da Silva, que faz parte do movimento pela libertação dos presos políticos.
"Deixem-se de observações ou comentários isolados e tomem uma posição conjunta, uma posição forte que possa fazer com que o Estado angolano restabeleça a justiça e possa cumprir não só a Constituição angolana como o direito internacional", salienta Joseph da Silva, que garante que a luta vai prosseguir até que os jovens sejam absolvidos.
O jovem angolano António Tonga reforça a denúncia ao regime de Luanda. "Para que não haja um [27 de maio de] 1977 outra vez. Toda a gente tem de dizer um basta a esta cleptocracia de José Eduardo dos Santos".
Lembrados ativistas de Cabinda
O apelo à justiça e liberdade dos presos políticos em Angola é extensível aos ativistas de Cabinda Marcos Mavungo e Arão Tempo. A propósito destes prisioneiros de consciência, uma delegação da Amnistia Internacional (AI) reúne-se esta sexta-feira (15.04) com a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, Teresa Ribeiro.
"Vamos levar a preocupação da Amnistia relativamente ao caso destes 17 ativistas e de outros ativistas de direitos humanos que também estão a ser perseguidos em Angola", adianta Ana Monteiro, coordenadora de campanhas da AI Portugal, garantindo que tudo será feito para que os ativistas políticos "sejam absolvidos e libertados incondicionalmente o mais depressa possível".
Para a Amnistia, a decisão tomada pelo Tribunal de Luanda viola a justiça. "Os ativistas foram erradamente condenados num julgamento profundamente politizado".