Luanda sob tensão por causa de manifestação contra Presidente
19 de setembro de 2013
Um autêntico braço de ferro está instalado em Luanda, principalmente nos subúrbios, como Sambizanga, Cazenga e Viana, de onde nas próximas horas partirão dezenas de jovens para se manifestarem contra o Presidente José Eduardo dos Santos.
A polícia diz: “nada de manifestação”. Paulo Gaspar de Almeida é o segundo comandante-geral da polícia nacional e chama de "frustrados" os mentores desta iniciativa, ao mesmo tempo que indicia uma mão estrangeira em mais esta ação: "Há umas certas mensagens que estão a circular, ameaçando, questionando se poderá haver uma ou outra confusão, mas a isso as pessoas não devem ligar."
O segundo comandante-geral da polícia nacional apresenta o seu ponto de vista sobre as motivações do protesto: "Há sempre pessoas que não se sentem confortaveis e satisfeitas com os progressos do povo angolano. Eles sentem-se frustrados e então esperam que todos participem nas suas intenções. Portanto, nós estamos atentos e a população deve estar atenta para que se evitem essas confusões."
A determinação dos manifestantes
Os jovens manifestantes dizem que, mesmo com a proibição vão às ruas para cumprir com o seu objetivo, aliás anunciado por carta ao Governo provincial de Luanda, no passado dia 2 de setembro, sem resposta até esta quarta-feira (18.09.). Pedrowski Teca é um dos manifestantes:"A questão é nunca desistir. O facto do Executivo não responder às nossas inquietações não significa que devemos desistir. É uma questão de persistência."
Polícia bem armada nas ruas de Luanda
Nas últimas horas foram vistos nas ruas da capital angolana agentes da polícia de várias especialidades, rigorosamente armados.
O facto mais visível era a zona que dá para a praça 1º de Maio, que na tarde desta quinta-feira (19.09.) deve receber o ajuntamento de manifestantes, uma prontidão que foi confirmada por uma fonte do comando provincial da policia nacional.
A polícia montada, ou cavalaria, a unidade anti-terror, a polícia de intervenção rápida e agentes da polícia secreta à paisana fazem parte do grupo de avanço já nesta zona.
A DW África apurou que na tarde de quarta-feira (18.09.), elementos não identificados estiveram a distribuir panfletos que apelam à população para levar armas, paus e facas à manifestação.
Declaração de "guerra"
Rodrigo Gamba, do movimento, que denunciou a situação, diz que o grupo se demarca de tudo isto: "Caso venha a desaparecer um dos manifestantes nós responsabilizamos desde já José Eduardo dos Santos e o ministro do interior. Eles já afiaram a máquina e até têm gás lacrimogéneo."
Nesta quinta-feira (19.09.), no entanto, esperam-se inúmeros apelos e denúncias, e Pedrowski Teca, um dos manifestantes cita algumas delas:"Vamos falar sobre a corrupção, a impunidade no país. Vamos falar das oportunidades para os jovens, vamos falar de política, das oportunidades para os jovens, do favoritismo."
Filho do Presidente organiza - em paralelo - concurso de rap
Por outro lado, as rádios públicas e a televisão de Angola, para além de outras que emitem para o país por satélite, emitiam publicidade de um concurso de música rap, numa ação descrita como “contramanifestação” em que são convocados centenas de jovens, principalmente da periferia.
O mesmo será realizado a 500 metros do local onde o "Movimento Revolucionário" se vai reunir em protesto.
O vencedor ganha um apartamento e 35 mil dólares. Como cabeça de cartaz estão os conhecidos músicos Azagaya de Moçambique e Kid MC e MCK de Angola. A empresa é sub-contratada por Danilo dos Santos, um dos filhos do Presidente da República.
A manifestação, desta quinta-feira (19-09), foi convocada há vários meses para o dia 19 de Setembro, um dia antes do arranque do mundial de Hóquei em Patins. Foram utilizados vários meios, como sms, redes sociais, panfletos e o inevitável “boca a boca”, principalmente nas Universidades.
Entretanto, um dos nossos correspondentes em Angola, Nelson Sul d'Angola, foi interrogado durante esta quarta-feira (18.09) por militares em Luanda, que no dia anterior lhe tinham confiscado a máquina fotográfica quando tirou fotos do exterior de um muro do Hospital Militar. O interrogatório demorou cerca de duas horas, segundo o nosso correspondente e teve como tema a sua atividade jornalística em Angola.