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Lunda Sul: Apesar dos diamantes, a população vive na pobreza

Borralho Ndomba
10 de junho de 2022

Sociedade Mineira de Catoca diz ter investido sete milhões de dólares em projetos sociais em diferentes comunidades da província da Lunda Sul. Mas o povo quer mais da empresa e exige ao Governo mais postos de trabalho.

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Angola Einkaufsstrasse in Lunda-Sul
Foto: Borralho Ndomba/DW

A Lunda Sul, à semelhança da Lunda Norte, é uma região angolana muito rica em diamantes. No entanto, os seus habitantes vivem no limiar da pobreza. Nesta parte do leste de Angola a vida é difícil para a maioria dos que aqui vivem.

Os cidadãos queixam-se da falta de emprego, de dificuldades no acesso à educação e da inexistência de unidades de saúde com qualidade, uma situação confirmada por organizações não governamentais na região que alertam ainda para os impactos negativos da exploração diamantífera nas Lundas.

Francisco Simão, estudante de eletricidade, diz não entender os motivos do elevado desemprego numa região tão fértil em termos de recursos naturais. "A nossa cidade, como podemos ver, é rica num recurso mineral com muito valor que é o diamante. Com isso, penso que se devia construir mais empreendimentos para garantir mais emprego para a nossa juventude", afirma.

Angola Jugendliche aus Lunda-Sul
Jovens da Lunda Sul queixam-se de dificuldades no acesso à educação e da falta de emprego na regiãoFoto: Borralho Ndomba/DW

Daniel Jeremias, que reside no interior da Lunda Sul, defende projetos que possam fomentar mais desenvolvimento na sua comunidade. "Aqui no bairro, principalmente nós, os jovens, queremos trabalhar, mas não temos emprego. Queremos desenvolvimento aqui no bairro. Também não temos espaço para praticar desporto. Isso está a fazer-nos falta", critica.

Sem acesso a educação

Os jovens que vivem nos municípios ou comunas mais longínquos lutam por uma vaga nas escolas secundárias localizadas apenas na capital da província da Lunda Sul, Saurimo.

Para minimizar os problemas sociais dos populares das zonas diamantíferas, a Sociedade Mineira de Catoca,  a maior mineradora da região,  anunciou que, em 2021, gastou mais de 7 milhões de dólares (cerca de 6,61 milhões de euros) em projetos enquadrados nos programas de responsabilidade social.

O dinheiro foi gasto na construção de vilas residenciais, postos de saúde, escolas, fontanários de água, centros infantis e campos agrícolas. A mineradora diz que está também a promover programas de incentivo ao empreendedorismo a fim de retirar várias famílias da pobreza.

Angola Ein Mitarbeiter der Diamanten Miene Catoca
Funcionário da Sociedade Mineira de Catoca numa exploração diamantífera na Lunda SulFoto: Borralho Ndomba/DW

Numa conferência de imprensa realizada recentemente na cidade do Saurimo, o diretor-geral da Catoca, Benedito Manuel, disse que a empresa tem projetos sociais em quase todas as regiões de Angola. Mas a Lunda Sul é a prioridade no que chama de "distribuição da riqueza".

"Dentro da nossa política as prioridades são: primeiro Lunda Sul, porque as nossas operações são feitas aqui. Em segundo lugar está o leste. O diamante explora-se no leste e queremos, de alguma maneira, atender às aspirações da população, porque há um grau de penúria elevada no leste. E as pessoas precisam de sentir que da exploração diamantífera há alguma distribuição da riqueza. Só depois de sairmos do leste é que necessariamente seguiremos para as outras províncias", anunciou o responsável da Catoca.

A DW visitou recentemente a vila do Luaxe, onde residem populares que habitavam no perímetro das minas de diamantes. A vila foi construída com o financiamento da Catoca, mas as carências manté-se a vários níveis, com a população a ter dificuldades para trabalhar. 

Faltam estradas e transportes

Os habitantes consideram que o que está ser feito pela mineradora angolana "é pouco". A autoridade tradicional, o soba Sapapa, residente na vila há três anos, quer mais estradas para o escoamento dos produtos dos campos agrícolas.

Angola Lunda Sul | Soba Sapapa
Soba Sapapa, autoridade tradicional da vila de LuaxeFoto: Borralho Ndomba/DW

"Cultivamos manualmente. Daqui tem que se levar o produto à cabeça até onde encontrar boleia. Aqui não temos meios de transporte", explicou.

O soba defende, por outro lado, a inserção dos jovens das comunidades locais no mercado de trabalho.

Osvaldo Pinto, responsável pela área social da Catoca, responde que na comunidade do Luaxe pelo menos seis jovens foram empregados pela mineradora, e promete mais ações de combate à pobreza na Lunda Sul.

"Estamos a fomentar o programa agrícola nas comunidades. Esta comunidade, por exemplo, já beneficiou disso. É uma preocupação nossa, está na nossa agenda de trabalho", frisou.

"Logo que nos disponibilizarem a máquina, vamos fazer a limpeza do campo para dar continuidade, porque eles já têm uma lavra ativa", garantiu.