"Luto para que Moçambique seja um país modelo em África"
6 de agosto de 2014A revista escolheu vários artistas, empresários, intelectuais e políticos. Foi neste último setor que, na opinião da publicação, se destacou a jovem moçambicana Maria Ivone Soares.
Dirigente juvenil da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, Maria Ivone Soares, de 34 anos, é também deputada e uma voz ativa no Parlamento. Sobrinha do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, Ivone Soares escreve em vários jornais, tem alguns blogues na internet e quer que o seu empenho inspire outras mulheres em Moçambique.
A DW África entrevistou Maria Ivone Soares, que se mostrou surpreendida com a nomeação da revista The Africa Report.
DW África: Porque acha que esta publicação a incluiu entre as 50 personalidades emergentes em África?
Ivone Soares (IS): O que eu tenho feito apenas é lutar dentro do meu país para que os jovens, rapazes e raparigas, possam ter uma educação de qualidade, à semelhança da educação que eu pude ter. Luto ainda pelos direitos humanos, para que sejam respeitados pelos nossos governantes. E para que a democracia não seja uma democracia de "faz-de-conta".
DW África: E neste caso particular, em que o Governo de Moçambique e a RENAMO têm estado em conversações para assinarem um acordo de paz, de que forma tem atuado para contribuir para o entendimento entre as duas partes?
IS: Como presidente da Liga de Juventude do maior partido de oposição, nós temo-nos empenhado, e eu particularmente empenho-me, no sentido de escrever artigos de opinião, chamar à razão a quem de direito, no sentido de devolver a paz ao país e garantirmos que todos os políticos possam exercer a sua atividade sem alguma forma de obstrução.
Acho que é possível termos uma paz efetiva. Temos aqui uma oportunidade ímpar de podermos discutir as questões mais sensíveis que o país nunca discutiu, apesar de estarmos há quase 22 anos em paz. E também acredito que, a seguir, será tocado um assunto que é extremamente importante para o desenvolvimento do meu país, que tem a ver com a partidarização do Estado.
DW África: Em relação aos recursos naturais em Moçambique, tem sido uma voz crítica na exploração do gás natural na província de Cabo Delgado. Quais são as principais críticas que tem a apontar?
IS: O que eu critico é o facto de em Cabo Delgado, onde têm estado a operar grandes multinacionais, não se notar um desenvolvimento na vida dos cidadãos daquela zona. Eu tive o cuidado de visitar a ANADARKO (consórcio dos Estados Unidos da América de exploração de gás e petróleo), por exemplo, visitei a Statoil (multinacional norueguesa do setor de petróleo), não consegui visitar a ENI (Ente Nazionale Idrocarburi - multinacional petrolífera italiana), porque não nos recebeu na altura, que é para garantirmos, que os recursos que estão a ser explorados por estas multinacionais não servem apenas para enriquecê-las e para enriquecer, talvez, as pessoas ligadas à nomenclatura governativa.
Uma crítica que eu tenho estado a fazer, é no sentido que os contratos têm de ser conhecidos por toda a gente. E há a necessidade de construir escolas técnicas, de absorver a mão-de-obra moçambicana, para garantir a distribuição das receitas que estão a ser produzidas em Moçambique. Então, esta é a minha grande luta: garantir que o meu país possa ser em África um país modelo. E também que tudo aquilo que tenho estado a aprender possa contribuir para inspirar tantas outras raparigas.
DW África: Para quando está previsto um deslocamento e a aparição pública de Afonso Dhlakama em Maputo, tanto por causa da campanha eleitoral, como por causa do acordo de paz?
IS: Eu acredito que, quando estiverem criadas todas as condições de segurança, aí sem dúvida que ele virá para iniciar as atividades de pré-campanha.