1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Líbia, um ano depois: uma luz no fundo do tunel?

6 de fevereiro de 2012

Um ano depois do início da revolta popular na Líbia, o país ainda enfrenta um futuro incerto. Mas o especialista alemão Andreas Dittmann acredita que existem condições para desenvolver o país económica e politicamente.

https://p.dw.com/p/13yD6
A Líbia, apesar da revolução, regista casos de violações dos direitos humanosFoto: AP

Iniciada oficialmente no dia 17 de fevereiro de 2011 e auxiliada por uma intervenção militar internacional, a revolta popular contra o antigo governo do líder líbio Muammar Kadhafi acabou com a tomada da capital Trípoli pelos rebeldes, em agosto, e o assassinato de Kadhafi, também por militantes da revolução, em outubro.

Na avaliação do especialista alemão em assuntos ligados à Líbia, Andreas Dittmann, da Universidade de Gießen, no centro da Alemanha, o futuro do país do norte africano ainda é incerto, apesar de acreditar que existem condições "especialmente boas" para o seu desenvolvimento.

Ele aponta basicamente, três condições para esse desenvolvimento: "Ainda existem muitos recursos naturais, principalmente as reservas de petróleo, que devem durar entre 65 e 70 anos. A população também não é muito numerosa, o que é uma boa equação com o fator 'muito dinheiro'. O terceiro fator é o clima de mudança que domina o país após 40 anos de ditadura."

Afrikanische Union Gipfel Muammar Gaddafi
A ONU exigiu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte Muammar KadhafiFoto: picture alliance/dpa

Nem tudo foram problemas no regime de Kadhafi

Andreas Dittmann considera ainda que nem tudo foram problemas durante os mais de 40 anos de governo de Mouammar Kadhafi. A partir de 1969, quando assumiu o poder após um golpe de Estado, Kadhafi implementou bases democráticas que poderiam ser utilizadas agora.

O estudioso explica que essas bases previam que todas as decisões de maior amplitude no país teriam de ser tomadas por todos. Na altura, Kadhafi explicou que isso funcionaria através de uma teoria dele, que previa uma terceira via entre o capitalismo, de um lado, e o socialismo, do outro.

Mas Dittmann conclui que os tais princípios acabaram por ser esquecidos, "e as decisões tomadas pelo governo líbio acabaram sendo todas tomadas por Kadhafi".
Por outro lado, o especialista também alertou que usar esse tipo de teoria no momento atual poderia ser interpretado pelos críticos de forma negativa, "como se Kadhafi estivesse de volta".

Veranstaltung in Misrata über libysche Revolution
A Líbia ficou parcialemnte destruida durante a guerra entre os rebeldes e o regimeFoto: Esam Mohamed ezzobair

Contributo dos retornados para a reconstrução

Relativamente à reconstrução da Líbia após a revolta e o derrube do regime de Kadhafi, o especialista receia algo semelhante ao que ocorreu no Afeganistão após a queda do regime radical islâmico talibã: muitos afegãos exilados voltaram imediatamente para o país de origem para a reconstrução, mas a realidade que encontraram fez com que eles retornassem ao exílio.

Por outro lado, segundo Dittmann, o facto de a Líbia ter "alguns exilados importantes, especialmente os originários de diferentes grupos de oposição", pode ajudar na reconstrução do país - se estes exilados voltarem ao país do norte africano.

Em relação à ajuda externa, o especialista afirmou que o importante, atualmente, não é a transferência de dinheiro, mas de conhecimento. E um dos passos mais urgentes a serem dados na Líbia é fazer uma reforma no setor da Educação: "Mais do que concretizar programas económicos ou parcerias militares é fazer uma reforma do sistema de educação."

Além desta reforma, o especialista aponta mais cinco tarefas no país: a realização de eleições legislativas e a garantia de que não serão as milícias as guardiãs da ordem no país, mas sim a polícia. Seria também preciso implementar um programa de desarmamento na Líbia. As últimas duas tarefas, de acordo com Dittmann, consistem em aproveitar a condição económica do país, ou seja, muito dinheiro e pouca população. "Tudo isso para evitar um problema de falta de energia daqui a 50 anos, quando acabar o petróleo", finaliza o especialista alemão.


Autores: Lewis Gropp/Renate Krieger
Edição: Nádia Issufo/António Rocha