Líder dos protestos no Mali apela para calma
12 de julho de 2020O líder dos protestos no Mali, o imã Mahmoud Dicko, pediu calma este domingo (12.07), depois da morte de mais quatro civis nas manifestações que exigem a renúncia do Presidente Ibrahim Boubacar Keita.
"Não provoquem ninguém. Não ataquem ninguém", apelou num vídeo gravado na mesquita onde é pregador. "Acalmem-se, por favor! Acalmem-se! Acalmem-se!", acrescentou.
Esta é a pior agitação civil do país em anos. A capital Bamako é, desde sexta-feira (10.07), palco de manifestações sangrentas. Testemunhas dizem que as forças policiais atiraram diretamente contra os manifestantes.
Com as três mortes anteriormente registadas na sexta-feira, o Mali regista um total de sete vítimas nos protestos até este sábado (11.07). Entre os mortos, estão dois adolescentes, de 15 e 17 anos.
Os confrontos foram "especialmente violentos" no bairro de Badalabougou, nos arredores da residência de Mahmud Dicko, imã líder da oposição, e de Dagnoko Manassa, presidente do Tribunal Constitucional.
A polícia terá feito cerca de uma centena de detenções durante os distúrbios, de acordo com o primeiro-ministro maliano, Boubou Cissé.
Controvérsias
O Presidente maliano tentou apaziguar os manifestantes, prometendo, num discurso, dissolver o atual Tribunal Constitucional, que está no centro das controvérsias. Aquele tribunal revogou os resultados provisórios das eleições legislativas de abril, o que provocou protestos em várias cidades.
Soma-se a isto a ação de grupos jihadistas, problemas económicos e corrupção no seio do Governo, que levaram os manifestantes a exigir a renúncia de Ibrahim Boubacar Keita.
Nos últimos dias, seis figuras da oposição, que está reunida na coligação Movimento do 5 de junho - Reunião das Forças Patrióticas" (M5-RFP), foram detidas nos últimos dias.
A renúncia do Tribunal Constitucional foi uma das exigências dos manifestantes, mas existem outras reivindicações consideradas mais difíceis de concretizar, como a dissolução da Assembleia Nacional ou a renúncia do próprio Presidente.
Num comunicado divulgado este domingo (12.07), Ibrahim Boubacar Keita diz que está disposto a continuar o diálogo com a oposição, mas critica o que diz ser a "incitação à violência" por pessoas ligadas ao M5-RFP, às quais, prometeu, "o Estado responderá sem qualquer fraqueza".
O chefe de Estado também reconheceu que os protestos de sábado criaram "fatalidades". O Movimento do 5 de Junho é integrado por religiosos, políticos e personalidades da sociedade civil.