Líder político assassinado no Burundi
5 de agosto de 2015Come Harerimana, líder distrital do Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD), foi assassinado a caminho do escritório esta terça-feira (04.08). Segundo uma fonte oficial, citada pela agência de notícias Reuters, um grupo de pessoas não identificadas atingiu-o com pedras enquanto ele seguia numa motorizada. A seguir, os atacantes tiraram-no do assento e mataram-no à queima-roupa.
O clima de insegurança cresce no país. A noite de segunda-feira (03.08) ficou marcada pela violência em diversos bairros da capital burundesa, onde vários carros foram incendiados. Um oficial do exército que guardava a Rádio e Televisão Nacional do Burundi encontra-se gravemente ferido, depois de ter sido alvo de disparos esta terça-feira. Na cidade de Cibitoke, um homem foi decapitado.
No domingo, o antigo chefe dos serviços secretos e aliado do Presidente Pierre Nkurunziza, o general Adolphe Nshimirimana, também foi assassinado. Um dia depois, o ativista dos direitos humanos Pierre Mbonimpa foi atacado um Bujumbura, ficando também gravemente ferido.
A filha de Mbonimpa, líder da Associação de Proteção dos Direitos Humanos, afirma que a saúde do pai está a melhorar. No entanto, pede a transferência do ativista para um hospital fora do país, dada a situação atual do Burundi. "Queríamos tirá-lo daqui, para que pudesse receber tratamento médico no estrangeiro, porque tememos pela sua segurança. Estamos a tentar obter uma autorização."
Receio de nova guerra
Para muitos analistas, a atmosfera violenta reaviva o espectro da guerra civil no Burundi. Os observadores sublinham a importância de retomar o diálogo no país, que estancou pouco antes da controversa eleição eleitoral de 21 de julho.
O Burundi está mergulhado numa crise política desde abril, quando o Presidente Pierre Nkurunziza anunciou a sua candidatura a um terceiro mandato, considerado inconstitucional pela oposição e a sociedade civil. Os protestos dos meses seguintes causaram dezenas de mortes.
Perante os últimos desenvolvimentos, a Organização das Nações Unidas, na voz do secretário-geral Ban Ki-moon, já apelou ao diálogo, pedindo às autoridades que investiguem o assassinato do general Nshimirimana e o atentado contra o ativista Mbonimpa. Também a União Europeia pediu contenção a todas as partes envolvidas na crise burundesa.
Ataques e contra-ataques?
A violência contínua faz também aumentar o medo entre os cidadãos, especialmente na capital. Ouvida pela DW África, a proprietária de uma mercearia em Bujumbura afirma que o ataque a Mbonimpa foi um ato de retaliação pela morte do general Nshimirimana: "No domingo foi morto o general, próximo do Governo. Na segunda-feira, foi ferido Pierre Mbonimpa, da sociedade civil. Ele foi um dos principais organizadores dos protestos contra o terceiro mandato do Presidente Nkurunziza. Podemos pensar que se trata de uma vingança."
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Burundi também já condenou os recentes acontecimentos. O diretor da organização, Jean-Baptiste Baribonekeza, pede que a escalada de violência seja travada.
"Apelamos a todos os responsáveis políticos a evitar qualquer provocação, violência ou ataques de retaliação e a incutir entre os seus apoiantes o respeito mútuo, a coabitação pacífica e o respeito pela vida a e a dignidade humana", disse Baribonekeza.
Esforços diplomáticos
Os líderes da nova comissão criada pela oposição, o Conselho Nacional para o Respeito do Acordo de Arusha e a Restauração do Estado de Direito, anunciaram que vão deslocar-se o mais brevemente possível a Kampala, para uma reunião com o Presidente do Uganda, Yoweri Mosevini, o mediador da crise no Burundi.
Entretanto, o Governo burundês nega as acusações de que rompeu unilateralmente o diálogo com a oposição.
"A porta do diálogo nunca pode fechar-se. Independentemente da forma como decorrer, o diálogo tem de prosseguir", garantiu o porta-voz governamental Willy Nyamitwe.