Líderes mundiais apelam à estabilidade após queda de Assad
9 de dezembro de 2024O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se de emergência, esta segunda-feira à tarde, para uma reunião à porta fechada sobre a Síria, na sequência da queda do Presidente Bashar al-Assad, foi hoje anunciado.
Segundo várias fontes diplomáticas citadas pela AFP, a reunião foi solicitada pela Rússia, um país aliado do regime agora deposto.
O regime da família al-Assad, que governava a Síria há mais de 50 anos, caiu este domingo (08.12). A ofensiva dos rebeldes liderados pela Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham), que tomaram Damasco com pouca resistência, começou a 27 de novembro e durou apenas 12 dias.
O ex-Presidente sírio, que esteve no poder 24 anos, deixou o país perante a ofensiva rebelde e refugiou-se em Moscovo, na Rússia, onde lhe foi concedido exílio, confirmaram as agências de notícias russas.
Moscovo, aliado de Assad, afirmou que as tropas russas na Síria estavam em alerta máximo, mas que os rebeldes tinham "garantido” a segurança das suas bases militares no país.
"Fim do regime de Assad é boa notícia"
António Guterres, secretário-geral da ONU, vê a queda do regime Al-Assad como uma "oportunidade histórica" para o futuro e pede que se evite violência.
"Há muito trabalho a fazer para assegurar uma transição política ordenada para instituições renovadas. Reitero o meu apelo para a calma e para que se evite a violência neste momento sensível, protegendo simultaneamente os direitos de todos os sírios, sem distinção", referiu Guterres numa nota partilhada no portal das Nações Unidas.
Por seu turno, o chanceler alemão, Olaf Scholz, apelou ao rápido restabelecimento da "lei e da ordem" e a uma solução política que ofereça a todos os sírios uma vida "com dignidade e autodeterminação".
"Nos últimos anos, o povo sírio sofreu terrivelmente com Assad. É por isso que o fim do regime de Assad é, para já, uma boa notícia. Hoje estamos ao lado de todos os sírios que estão cheios de esperança numa Síria livre, justa e segura”, disse.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, considera que este colapso é um "ato de justiça" que demonstra a fragilidade dos países que o apoiavam, nomeadamente o Irão e a Rússia, incapazes de protegerem o seu aliado.
Biden admite, contudo, que este é também um "momento de risco e incerteza", lembrando que alguns dos rebeldes têm um perigoso histórico de terrorismo. Disse ainda que al-Assad deve ser responsabilizado pelos crimes do seu regime.
O Presidente francês Emmanuel Macron saudou a queda do “Estado bárbaro” de Bashar al-Assad na Síria.
"Presto homenagem ao povo sírio, à sua coragem, à sua paciência", disse.
Numa comunicação a partir da Casa Branca, Biden disse que a queda do regime sírio é uma prova de que Moscovo está a perder influência no Médio Oriente.
"Isto porque a Ucrânia, apoiada pelos aliados, ergueu um muro contra as forças invasoras russas, infligindo danos às forças russas, que deixaram Moscovo incapaz de proteger o seu aliado no Médio Oriente", explicou o líder norte-americano.
A opinião de Joe Biden é também partilhada pelo seu sucessor Donald Trump.
"A Rússia e o Irão estão muito enfraquecidos neste momento, um por causa da Ucrânia e de uma má economia, e o outro por causa de Israel e seus êxitos militares”, disse.
Pequim, através do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, diz "estar a acompanhar de perto o desenvolvimento da situação na Síria e espera que a Síria regresse à estabilidade o mais rapidamente possível”.
Já o chefe da diplomacia de Teerão, Abbas Araghchi, diz estar preocupado com a "possibilidade de uma guerra civil, de desintegração da Síria, colapso total e transformação do país num abrigo para terroristas". As mesmas preocupações foram expressas pela Rússia e China.
Crimes de guerra
A Human Rights Watch (HRW) também classificou a derrota de Bashar al-Assad como uma "oportunidade histórica" para a Síria reconstruir o seu futuro e acusou o governo de al-Assad de "cometeruma série de crimes de guerra e violações dos direitos humanos", incluindo detenções arbitrárias, tortura, desaparecimentos forçados e mortes sob custódia.
Em comunicado, a ONG acusa ainda o regime de al-Assad de "utilização de armas químicas, recurso à fome como tática de guerra e ataques deliberados contra civis e objetos civis".
A organização afirmou ainda que os grupos armados que lideraram a ofensiva, que começou em 27 de novembro e terminou com a queda de al-Assad, "são responsáveis por violações" dos direitos humanos e crimes de guerra.
Sírios festejam na Europa
A queda de Al-Assad foi, durante este domingo, festejada em toda a Europa. Muitos refugiados sírios tomaram as ruas de várias cidades celebrar o que consideram ser "o regresso à liberdade" no país.
"Finalmente estamos livres!", diz Bassam al-Hamada, de 39 anos, com um sorriso no rosto, em Berlim, uma das muitas cidades alemãs onde a maior diáspora síria na União Europeia (UE) se tem reunido para celebrar a queda de al-Assad.
O mesmo júbilo foi sentido na esplanada em frente ao Parlamento grego, no centro de Atenas, onde a multidão gritava "Síria, liberdade!" e "juntos, juntos, juntos".
Em Estocolmo, a televisão TV4 noticiou a exibição da bandeira da oposição síria no mastro da embaixada síria e, em Viena, as televisões revelaram a palavra "liberdade" escrita em muitas bandeiras empunhadas por sírios.
Em Trafalgar Square, no centro de Londres, centenas de manifestantes gritavam "A Síria é nossa, não da família Assad".